17 janeiro, 2010

AIDS NA ÁFRICA: uma assustadora e grave epidemia

AIDS NA ÁFRICA: uma assustadora e grave epidemia


Milhões de infectados vivem no continente, onde a doença se alastra enquanto o resto do mundo assiste a tudo calado.

Com pouco mais de 10% da população mundial, a África subsaariana espantosamente possui 70% de todas as pessoas infectadas com o vírus HIV no mundo. Os dados fornecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) indicam que em 2003 cerca de 37,8 milhões de pessoas viviam com o vírus no planeta, sendo que, desse grupo, a África subsaariana detém 25 milhões.

No continente, vários países apresentam a doença de maneira generalizada, com a população contaminada superior a 1% do total de habitantes. Na África, especialmente na sua porção meridional, a propagação do vírus vem crescendo em todas as classes sociais, não se restringindo apenas aos chamados grupos de risco.

A situação africana é tão grave que a ONU considera que a Aids já virou uma epidemia em alguns países. Desde a década de 1980, aproximadamente 11 milhões de pessoas morreram na África meridional, vítimas da doença, e atualmente sete países apresentam mais de 15% da população total infectada com o vírus. Botsuana e Suazilândia são os países com maiores taxas, respectivamente 38,8% e 37,3%. Logo atrás vêm Lesoto (28,9%), Zimbábue (24,6%), África do Sul (21,5%), Namíbia (21,3%) e Zâmbia (16,5%). O Brasil tem 540.000 pessoas infectadas, uma taxa de contaminação de 0,35% da população.

Em Botsuana, o país mais afetado pelo HIV; mais de um terço da população adulta está infectado. Lá um recém-nascido tem como expectativa de vida apenas 36 anos, praticamente metade do que viveria se a doença não existisse. Burkina Fasso, 20° país mais afetado pela doença, possui 330.000 adultos soropositivos, e a expectativa de vida caiu oito anos.

Os dados estatísticos mostram que as mulheres africanas se contaminam mais precocemente que os homens e que a diferença entre homens e mulheres contaminadas continua crescendo. Hoje, para cada grupo com 13 mulheres infectadas, existem 10 homens na mesma situação. Em 2002, essa proporção era de 12 para 10. Em alguns países a situação é mais séria: na África do Sul, para 10 homens soropositivos, existem 20 mulheres contaminadas. Em países como Quênia e Mali, a média é de 45 mulheres contaminadas para cada 10 homens!

Um conjunto de fatores explica esse percentual tão elevado de pessoas infectadas. As mulheres dificilmente conseguem praticar o sexo seguro, e, quando tentam, sofrem freqüentemente maus-tratos de seus parceiros. A pobreza impulsiona a chamada "indústria do sexo", com crescente participação de jovens, muitas vezes menores de idade, se prostituindo nas áreas urbanas. Também contribui a elevada migração e lideranças políticas ineficazes, que durante anos poucas mudanças realizaram na saúde pública para reduzir esses números. Na África do Sul, muitas pessoas acreditam numa lenda que o portador do vírus que mantiver relações com uma mulher virgem conseguirá se livrar da doença. Assim, o crescimento de estupros e da Aids está fortemente associado nesse país, que apresenta 50.000 casos de violência sexual por ano (alguns afirmam que o número é bem maior, podendo chegar à triste e incrível marca de 1 milhão).

Na África é raro o uso de novas drogas que retardam o desenvolvimento da doença. Estima-se que nos próximos dez anos 22 milhões de pessoas morrerão vítimas de doenças desenvolvidas a partir da Aids.

Uganda foi o país africano com os maiores avanços no combate à Aids. No começo da década de 1990, o país apresentava 12% da população total infectada com o vírus. Em 2003, conseguiu reduzir esse número para 4,1%. Em sua capital, Campala, a população contaminada em 1992 era de 29%, passando para 8% em 2002. No entanto, o governo ugandense se preocupa com um fato: a redução da epidemia pode levar os jovens a serem menos conscientes das situações de riscos, já que a doença mostra-se menos devastadora que há dez anos.

Na África ocidental, o número de infectados é bem menor que na porção meridional, oscilando geralmente entre a 5% dos habitantes, com nenhum país ultrapassando os 10%.

O impacto da Aids também é baixo no norte do continente. Nos países localizados na região do Sahel (Argélia, Tunísia e Marrocos), as taxas giram em tomo de 1 % de pessoas com o HIV. No entanto, os baixos números muitas vezes ocultam problemas, como o elevado nível de contaminação em determinados grupos sociais. Exemplo disso é o Senegal, que possui uma taxa de contaminação inferior a 1 %. Porém a parcela da população ligada à prostituição apresenta crescente contaminação, pulando de 5% para 8% em 1992 e de 14% para 23% em 2002.

Autor: Vagner Augusto da Silva

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