26 abril, 2010

‘Belo Monte é a expressão e o significado do governo Lula-Sarney’

‘Belo Monte é a expressão e o significado do governo Lula-Sarney’

Projetada no governo Geisel, a usina hidrelétrica de Belo Monte, bandeira energética do governo Lula, tem vivido um espetáculo da mais pura improvisação. Após incessantes decisões judiciais contra e a favor da obra, o leilão que consagrou o consórcio liderado pela Queiroz Galvão e Chesf durou apenas sete minutos, sobrepondo-se à notificação da justiça que o suspendia. Logo depois, a Queiroz decidiu abandonar o empreendimento, acontecimento inédito em leilões do gênero. Para finalizar, alguns perdedores poderão participar do empreendimento, não como sócios principais, mas nas obras de construção da usina, vez que o projeto está envolto em uma série de dúvidas relativas aos custos a serem incorridos. Já há uma fila de empreiteiras interessadas. É o cabaré da energia elétrica.
Para tratar deste que é um dos assuntos mais polêmicos dos oito anos do PT no poder, o Correio da Cidadania conversou com o professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, Célio Bermann. Bermann não poupou críticas, de todos os matizes, a um projeto que foi imposto contra a vontade das populações, através de caricaturais audiências públicas e fictícias referências de custo.
Para Bermann, a explicação para a obsessão por Belo Monte é a aliança Lula-Sarney, que abarca figuras historicamente ligadas ao setor eletro-intensivo, de forma a manter a subordinação da política energética nacional aos interesses de grandes corporações econômicas. Desse modo, estaríamos vendo o início de uma radicalização na apropriação das riquezas do território amazônico, que só pode gerar trágicas conseqüências ambientais e sociais.

Correio da Cidadania: Que balanço você faz da trajetória do projeto de Belo Monte, com toda a disputa política e guerra judicial que cercam o projeto? Como avalia o resultado do leilão, que culminou com a desistência dos principais concorrentes, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, tudo indicando que o projeto deverá ser encampado pelo governo?
Célio Bermann: Primeiramente, eu não classificaria o resultado do leilão como uma vitória. Aconteceu que, apressadamente, a partir de novembro passado, o governo empurrou de forma obsessiva o projeto Belo Monte.
O resultado indica o seguinte: em primeiro lugar, o projeto será bancado única e exclusivamente pelo dinheiro público, através, primeiramente, do financiamento do BNDES, que deverá comparecer com 80% dos 19 bilhões de reais que custará a obra – custo que, no entanto, as construtoras e fabricantes de equipamentos eletro-mecânicos dizem não ser inferior a 30 bilhões.
Outro fato é que o consórcio vencedor é fundamentalmente formado por empresas públicas, estatais, o que se verifica na medida em que a Chesf representa 50% da composição acionária e o governo pretende também incorporar ao projeto, de forma efetiva, a participação acionária da Eletronorte, que por sua vez vai gerir a hidrelétrica. É toda uma engenharia financeira baseada fundamentalmente em renúncia fiscal exacerbada, com todas as conseqüências à população e aos contribuintes.
Dessa forma, estamos na iminência de assistir a um dispêndio de dinheiro público a ser administrado de forma absolutamente incompetente, porque o preço vencedor é totalmente fictício, uma vez que não é possível remunerar tal investimento com uma tarifa de 78 reais por cada 1000 kW/h.
Isso significa que, mais uma vez, haverá necessidade - para compensar os prejuízos, que serão assumidos principalmente pelas empresas estatais - de recorrer ao Tesouro Nacional a fim de se garantir que a energia seja suprida, principalmente para reproduzir e confirmar (e essa é a maior característica do projeto de Belo Monte) o modelo de apropriação do território amazônico, baseado na tomada de seus recursos naturais, de sua água, seus rios, para proporcionar a expansão de bens de alto conteúdo energético e baixo valor agregado.
Ou seja, faço referência às indústrias minero-metalúrgicas, de minério de ferro, bauxita e também sua primeira transformação, em aço e em lingote de alumínio.
Essa forma de "promover" o desenvolvimento da região amazônica e do país é absolutamente lesiva aos interesses da população brasileira.

CC: Além de perseguir um modelo de desenvolvimento inadequado sob os aspectos social e ambiental e dos custos elevadíssimos, o projeto é também criticado pela sazonalidade da usina no suprimento da energia e pelas incertezas geotécnicas que envolvem a obra. O que você acrescentaria a estes pontos que são destacados como grandes óbices para a efetivação desse empreendimento?
CB: Além da já mencionada questão da engenharia financeira, a idéia de que é preciso uma hidrelétrica para resolver o problema de habitação e infra-estrutura de uma cidade, de uma região, também aponta uma maneira absolutamente equivocada de entender os projetos de geração de eletricidade.
O principal benefício argumentado pelo governo é prover habitações de alvenaria e melhorias de saneamento, tratamento de água e esgoto para Altamira e região. Isso significa passar a responsabilidade das políticas públicas, que necessariamente devem ser assumidas pelos escalões da administração municipal, estadual e federal, para o empreendimento. Significa também a procura do governo por uma legitimação política, principalmente junto à população local mal informada.

CC: O que pensa sobre a avaliação de estudiosos de que o empreendimento de Belo Monte, com as reformulações pelas quais passou desde seu formato original, quando ainda era a usina de Kararaô, terá um impacto significativamente menor sobre o meio ambiente?
CB: O que aconteceu, em minha compreensão, foi que efetivamente houve a tentativa de levar em consideração o problema da amplitude do reservatório na concepção do projeto, com o artifício da construção de canais. Serão construídos dois canais de medidas significativas, de forma a comportar o volume de água que inicialmente estava estabelecido e ocuparia toda a região. Com isso, reduziu-se pela metade o reservatório, que antes era de 1200km².
Um problema significativo é que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) indica um reservatório de 400 km², enquanto o edital do leilão apontava um reservatório da ordem de 600 km². Aí também havia uma brecha por onde se poderia justificar o cancelamento do empreendimento, por não reconhecer o que tinha sido referência para a discussão ambiental. Se efetivamente haverá o aumento do reservatório, problemas sócio-ambientais de maior monta serão revelados. Portanto, seria fundamental reavaliar o projeto.
Mas o problema maior é que, na medida em que o projeto procurou reduzir as resistências ambientais, ao mesmo tempo em que manteve o dimensionamento da obra, ocasionou uma concepção absolutamente equivocada, que já determina sua ineficiência.
Agora ele está nas mãos de empresas estatais, pois as privadas saíram e não participam da tomada de empréstimos e dos investimentos, o que manteve a concepção de superdimensionamento da usina, de 11,2 mil mW, quando na verdade essa energia só estará disponível durante três meses ao ano. E haverá períodos de estiagem, entre setembro e outubro, nos quais a capacidade de geração se reduzirá a 1080 mW.
Frente a esse fato, o governo passou a trabalhar com a noção de ‘média de energia’, em torno de 4000, 4500 mW ao longo do ano, o que é uma maneira enganosa de caracterizar o empreendimento. A energia que estará garantida, independentemente do regime hidrológico, é de apenas 1000, 1100 mW. O restante da energia disponibilizada terá valor comercial menor.
Dessa forma, as empresas estatais (que deveriam ser públicas, mas não são) vão arcar com esse enorme prejuízo, que vai cair no bolso do brasileiro, e assim assistiremos ao prenúncio do processo de expansão do capital internacional na Amazônia: predatório, sem levar em consideração o interesse da população brasileira, especialmente as ribeirinhas, indígenas e tradicionais, fatalmente seguido da solicitação de construção de outras três usinas rio acima para melhorar a eficiência da usina e aumentar a disponibilidade hídrica, embora o governo indique que isso não acontecerá. No entanto, aponto como inexorável a necessidade de construção de outras usinas a montante, aí sim passando diretamente pelas populações da bacia do Xingu.

CC: Por que este governo é tão determinado em dar início a um projeto de custo elevadíssimo, em um país com variadíssimo potencial energético e com toda a resistência de entidades ambientalistas e movimentos sociais, inclusive com grande repercussão internacional? A quem se destina prioritariamente os benefícios desse projeto?
CB: Precisamos realmente qualificar que governo é esse que leva adiante de forma obsessiva o empreendimento, malgrado todas as análises críticas de movimentos sociais, ambientalistas, de acadêmicos e cientistas que fizeram aquele painel de especialistas para elaborar uma avaliação crítica aos estudos ambientais e à construção.
É preciso lembrar que essa obra é um arranjo político que constitui a expressão e significado do governo Lula-Sarney. Eis a referência que aponto.
O governo lulo-sarneysista tem interesses históricos na viabilidade de Belo Monte; todo o Ministério das Minas e Energia e a Eletrobrás de hoje estão constituídos pelos chamados homens-Sarney. São a esses, que mantêm relações históricas de privilégios com o setor eletro-intensivo, e às empresas minero-metalúrgicas, que politica e economicamente satisfaz um empreendimento dessa ordem.
Para o governo Lula e a candidatura Dilma fica o equívoco de identificar o projeto Belo Monte como estratégico, prioritário do PAC. Foi um equívoco determinado pela política de aliança do governo Lula.
Em minha opinião, esse erro pode gerar, em função das repercussões, uma insatisfação da sociedade e das populações locais em relação à condução do processo, fragilizando a própria candidatura. Eu analiso que Belo Monte, da forma como foi açodadamente conduzido, pode significar o cadafalso da candidatura Dilma.

CC: Vários estudiosos da área elétrica defendem, no entanto, o projeto como uma forma de aproveitar o potencial hidrelétrico brasileiro, já que o Brasil só teria utilizado até agora um terço desse grande potencial de energia limpa, proporção bem inferior à média dos países desenvolvidos. Qual a sua opinião quanto a esta avaliação?
CB: Essa percepção da hidroeletricidade de nosso país precisa ser redefinida. Nós temos hoje uma dependência excessiva da hidroeletricidade amazônica. O fato de mais de 50% de nosso potencial hidrelétrico estar localizado naquela região não significa, em absoluto, que todos os rios da Amazônia precisam ser transformados em jazidas de megawatts.
Tanto o projeto de Belo Monte como as usinas Santo Antônio e Jirau, do Rio Madeira, apontam a idéia que marca o pensamento elétrico, de se otimizar o aproveitamento energético desconsiderando as questões ambientais e sociais. E eventualmente, como em Belo Monte, procurando incorporar algumas dessas questões, mas mantendo a concepção de geração energética. Isso indica que não há compatibilidade entre preocupação ambiental, justiça social e o pensamento hegemônico de conduzir os projetos hidrelétricos da forma que vemos.
Em relação aos apoiadores da expansão hidrelétrica, devo dizer algo, sobre o qual Belo Monte é simbólico: primeiramente, a energia hidrelétrica ficará cada vez mais cara. Se levarmos em consideração a ordem e grandeza de 30 bilhões de reais de investimento, significa que o kilowatt instalado em Belo Monte está alcançando 2700 reais, cerca de 1500 dólares por kilowatt instalado, basicamente. Internacionalmente, o preço do kilowatt hidrelétrico instalado é de 1000 dólares. Estamos fazendo uma usina cara, contrariando a informação do governo e seus apoiadores de que se trata de projeto extremamente favorável no que se refere à relação custo/investimento e benefício.
Em segundo lugar, há o problema do destino da energia. Ela não será destinada às necessidades e requerimentos da população brasileira, não será voltada à melhoria de suas condições de vida no dia-a-dia e ao aumento da oferta de energia a essas pessoas.

CC: Segundo ainda esses mesmos estudiosos, fontes de energia alternativa, como eólica, solar, podem, sem dúvida, complementar a necessidade de suprimento, em vista de nosso variado potencial energético, mas não conseguiriam suprir significativamente as demandas de nossa matriz energética. O que você teria a dizer sobre essas energias alternativas?
CB: Essas outras fontes poderiam ter um aproveitamento melhor, como a biomassa também, o que poderia ser um complemento às fontes tradicionais, mas ainda se tem a compreensão de que são caras demais para receber investimento.
Mas é extremamente importante, antes de tudo, ressaltar alguns pontos. Um deles é a redução da perda de energia do sistema termelétrico: de acordo com dados do próprio governo, temos no Brasil uma perda da ordem de 15% do momento em que a energia é gerada, entra no sistema de transmissão, depois passa pela distribuição, até chegar à tomada dos consumidores.
Sem esquecer das características de prioridade à fonte hidráulica, não podemos imaginar reduzir essa perda ao que hoje é a média em países da Europa, Japão, EUA, onde ela fica em torno de 8%. Mas poderíamos imaginar reduzir as perdas a cerca de 10%. Daria pra ganhar 5% do que é gerado, disponibilizando esse montante para o consumo. Tal investimento é bem menor que a construção de uma nova usina.
Ao mesmo tempo, considero o fato de que o sistema hidrelétrico nacional apresenta condição diferenciada daquela existente nos locais citados, cuja matriz energética é extremamente dependente de usinas a carvão e gás natural, localizadas mais próximas do centro de carga e dos consumidores, o que possibilita uma menor perda também. A distância entre o local de geração e de consumo é determinante para operacionalizar um programa desse tipo. Por isso, em minha opinião, considerando as grandes linhas de transmissão do Brasil, levando energia elétrica de usinas hidrelétricas distantes do centro de carga e dos locais de consumo, nossa característica possibilitaria trabalhar com a redução de perdas, o que é uma conta teórica, mas que poderia levar a uma economia equivalente a dois terços do que se produz de energia em Itaipu.
Outra alternativa, para a qual chamei particularmente a atenção em 2004, e que teve resposta do governo apenas no ano passado, é a repotenciação de usinas hidrelétricas que operam há mais de 20 anos. Mas, nesse estudo feito pelo governo, a EPE – Empresa de Planejamento Energético - procura reduzir as conseqüências da repotenciação vistas historicamente e acaba super-dimensionando a capacidade de geração do parque hidrelétrico atual. Com isso, apontam uma escala de ganho extremamente reduzida por meio da repotenciação.
Neste momento, estou envolvido num trabalho de investigação e pesquisa junto a uma empresa de geração do estado de São Paulo para definir concretamente as possibilidades de redução de perdas nas usinas que operam hoje, de modo a conseguir aumento de energia por meio da repotenciação. Espero que esse trabalho se transforme numa discussão teórica, baseada em ganhos advindos da repotenciação e, por outro lado, em questionamentos sobre o super-dimensionamento do atual parque hidrelétrico por parte do governo. Espero reunir elementos suficientes para, de forma concreta, indicar as possibilidades que a repotenciação pode trazer.

CC: Todas essas possibilidades juntas não alcançariam o potencial elétrico que se projeta para Belo Monte de modo bem menos lesivo ao meio ambiente e à população? Por outro lado, até que ponto suprir esse potencial elétrico supostamente originário de Belo Monte é o foco que deve acompanhar as preocupações de uma política energética e de um modelo de desenvolvimento?
CB: Todas essas alternativas não substituem as grandes usinas hidrelétricas produtoras de grandes blocos de energia, como Belo Monte. Uma energia que, no entanto, é voltada a satisfazer as necessidades e requerimentos do processo eletro-intensivo.
As formas alternativas de energia têm como foco principal trazer benefícios não concentrados em um ou outro setor da economia, e com isso há a necessidade de discutir o modelo de acumulação que vigora em nosso país.
O modelo de desenvolvimento no qual estamos hoje assentados, de meros produtores de bens primários de alto conteúdo energético e baixo valor agregado, não representa um Brasil forte em termos de produção, geração de renda e geração de energia. Pelo contrário, esse modo de apropriação dos recursos naturais em favor de poucos apenas representa e indica que o governo Lula-Sarney faz essa construção em subordinação aos interesses financeiros internacionais.
Trata-se de uma visão equivocada, de que a disponibilidade energética conduz necessariamente ao desenvolvimento. As conseqüências inelutáveis serão a degradação ambiental e o acirramento da crise social.

CC: É possível projetar o tamanho do custo ambiental da obra? Seria digno de contestação não apenas nacional, como também internacional?
CB: Embora tenha sido propagandeado que era da ordem de 1,5 bilhão de reais, o custo ambiental não teve uma contabilidade de fato, não foram citados os parâmetros para se chegar a tal resultado...
A discussão histórica é de que os empreendedores que vão tocar a obra vão buscar reduzir custos. E a procura por redução de custos se dará principalmente sobre as dimensões sociais e ambientais.
Mesmo que tais valores projetados se confirmem, só serão verificados no futuro.

CC: E quanto ao custo social, considerando todo o deslocamento das populações tradicionais, indígenas e ribeirinhas, qual a sua avaliação? Será tão desastroso como no caso de Tucuruí?
CB: O problema é que não se trata, como se pensa, de dar a essas populações opções de uma casinha ou algo assim. O que acontece historicamente é que cerca de 80% das populações atingidas por obras hidrelétricas do país não receberam nenhum tipo de indenização.
Vamos imaginar que o empreendimento consiga fazer alguma forma de ressarcimento à população. O problema reside em que o levantamento do EIA – Estudo de Impacto Ambiental - subestima a população, o que já mostra o problema de se levar em conta o custo real do deslocamento dessa população a partir de uma obra desse porte, ainda mais na região amazônica. É o mesmo que se viu em Tucuruí e se vê agora em Porto Velho (por conta das usinas do Rio Madeira), casos em que o contingente de pessoas atraídas pela busca de emprego não será absorvido, pois a obra fica preferencialmente com a mão-de-obra qualificada. E essa população é mão-de-obra desqualificada, que não dispõe de programas de qualificação previstos nos projetos.
A questão social, acrescentada ao fato de que a população atraída vai demandar equipamentos sociais, moradia, educação, não está contemplada no investimento, não está valorada, e irá se constituir numa conta não assumida pelo empreendedor.

CC: Acredita que toda a contenda em torno da construção, ou não, da usina pode ensejar novas lutas por direitos de povos indígenas, tradicionais e locais, enfim, minorias que habitam terras muito cobiçadas em nosso país por suas riquezas naturais?
CB: A perspectiva de ampliação do processo político de contestação certamente existe. O problema é saber as conseqüências que irá trazer. A depender destas conseqüências, vai ser redefinida a forma como os interesses das populações são, ou não, incorporados ao processo de discussão e de investimentos.
Em minha opinião, a natureza de tais empreendimentos, com sua subordinação aos interesses do capital internacional, determina que esta é uma luta inglória, isto é, existe uma insatisfação popular muito grande, mas que, a meu ver, não abrirá espaço para que populações tradicionais interfiram nas decisões.
Quero dizer que não há compatibilidade entre o exercício democrático e a concepção desses empreendimentos. Eles são excludentes.

CC: Qual será, de todo modo, o final dessa contenda a seu ver? A luta de ambientalistas e populações atingidas conseguirá barrar a obra? Ou, por outro lado, o governo pode acabar engavetando ou adiando o projeto em vista de todo o desgaste gerado pela construção da usina, o qual pode ser utilizado inclusive eleitoralmente pela oposição?
CB: O problema é que, nas atuais circunstâncias, o governo conta com a irreversibilidade do processo. Eu esperava que a lógica prevalecesse, e foi o que aconteceu. Dessa forma, não posso levar em consideração a incerteza do que pode acontecer.
Vai existir incerteza tanto em relação ao empreendimento como no que se refere à contestação política ao resultado do leilão. Isso vai trazer um desgaste muito grande à candidatura do governo, mas tais possibilidades não nos permitem apontar de forma conclusiva o desfecho. Porém, qualquer que seja, o desgaste é enorme e pode representar a fragilização da candidatura Dilma.

Fonte: Correio da Cidadania 25-Abr-2010
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

25 abril, 2010

Belo Monte: triste história

Belo Monte: triste história

Notícia - 18 abr 2010

Pensada no regime militar, ressuscitada durante o apagão do governo tucano e levada adiante no petista, a usina tem tudo para deixar para o país uma herança de amargar






Área do Rio Xingu, no Pará, que será alagada pela construção da usina de Belo Monte. © Greenpeace/Marizilda Cruppe





Belo Monte, no rio Xingu onde o governo Lula pretende plantar a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, tem uma história recente muito feia. Ela começou em 1979, quando técnicos do governo federal terminaram estudos concluindo sobre a viabilidade da construção de cinco barragens no Xingu e uma no rio Iriri. O desastre social e ambiental provocado pela construção de Itaipu, no rio Paraná, que deslocou milhares de pessoas e afogou um de nossos mais relevantes Parques Nacionais, o de Sete Quedas, aliado à crise financeira pela qual o Brasil então passava, deixou os planos de Belo Monte esquecidos no armário.
O governo de José Sarney ensaiou desengavetá-los, mas diante dos impactos que o plano original provocaria no meio ambiente e das dúvidas sobre o custo da obra preferiu que eles continuassem trancados. Pesou muito na decisão de Sarney a consolidação da resistência dos povos indígenas do Xingu à obra. Eles sempre foram contrários à usina. Mas em 1989, eles se reuniram no 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu e conseguiram repercussão internacional de sua luta, fazendo o governo recuar para uma revisão dos planos. A porta para a hidrelétrica abriu-se novamente durante o apagão no governo Fernando Henrique.
A envergadura original do projeto foi reduzida. Da proposta inicial de cinco barragens, ficou-se com uma. E para usina, ao invés das convencionais, decidiu-se usar turbinas bulbo, que operam a fio d’água e exigem menor área de alagamento. Isso diminuiu, mas não tornou o impacto da obra mais aceitável. Ela vai causar um desmatamento de pouco mais de 50 mil hectares, provavelmente um dos maiores que irão ocorrer na Amazônia este ano. Seus efeitos sobre a fauna, a biodiversidade e sobre os indígenas que dependem do Xingu para sua sobrevivência , segundo técnicos do Ibama, ainda estão longe de terem sido adequadamente avaliados.
Do ponto de vista econômico e financeiro, as incertezas não são menores. O governo começou dizendo que Belo Monte custaria 7 bilhões de reais. Ultimamente, andou revendo esse montante para 16 bilhões. As empresas que se candidataram ao leilão da concessão, marcado para acontecer amanhã, terça-feira, dia 20 de abril, na sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em Brasília, falam em 30 bilhões.

Dinheiro e devastação

Em relação à energia que Belo Monte vai gerar, parece não haver muito mais dúvida. Ela será incapaz de produzir os 11 mil megawatts de energia que o governo promete. Por conta do que o empresariado envolvido chama de ‘concessões’ ao meio ambiente – aliás insuficientes para dirimir os danos que ela vai causar – a previsão é que sua geração fique em torno dos 4 mil megawatts/ ano. Apesar de tantos questionamentos, vindos de tudo quanto é lado, Lula disse dias atrás que faria Belo Monte na ‘lei ou na marra”. Pelo que andou saindo na imprensa ultimamente, o presidente optou pela segunda opção.
Forçou a entrada de empresas e fundos de pensão no leilão e, para aplacar sua má-vontade em relação ao negócio, meteu sem nenhum dó a mão no bolso do contribuinte. Segundo a edição do último sábado da Folha de S. Paulo (só para assinantes), ela receberá o aporte financeiro, a juros camaradas, é óbvio, do bom e velho BNDES. A repórter Janaína Lage revela que o banco se comprometeu a emprestar o dinheiro para até 80% da obra com prazo de 30 anos para pagar. De quebra, está alavancando o caixa dos empresários privados com o cofre das estatais de energia.
A repórter Gerusa Marques, em O Estado de S. Paulo, informa que para um dos consórcios, o Norte Energia, o governo aportou os músculos da Chesf. Para o outro, o Belo Monte Energia, empurrou Furnas e Eletrosul. Na retaguarda financeira, colocou de prontidão os fundos dos empregados de estatais e a Eletronorte, que poderá assumir até 35% de participação no empreendimento de quem for vencedor. Também anda acenando com incentivos fiscais. A mesma diligência com que responde aos apelos do empresariado nos quesitos preço e lucro, o governo demonstrou com as questões ambiental e social. Não para reduzir os impactos, mas para garantir que elas não serão empecilho ao leilão.
Miriam Leitão contou no seu blog em O Globo que a pressão da Casa Civil sobre o Ibama para que desse a licença de instalação, fundamental para permitir o leilão, foi bruta. Os funcionários do órgão deixaram claro que o tempo exíguo e a falta de informações do Ministério de Minas e Energia impedia a conclusão a contento da avaliação sobre o empreendimento. Seus chefes à época, o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o presidente do Ibama, Roberto Messias, fizeram ouvidos moucos. Tudo indica que mesmo diminuído, o projeto de Belo Monte tem tudo para se transformar num desastre ambiental numa região considerada de alta biodiversidade.

Chantagem

A obra exige a escavação de canais de 30 quilômetros de extensão. O volume da escavação será de cerca de 230 milhões de m3 de terra, maior do que o Canal do Panamá. Ela também exigirá a abertura de 260 quilômetros de estradas para vários pontos do canteiro. Concluída, Belo Monte vai deslocar 20 mil pessoas para lugares que ninguém claramente diz quais são. Esse é apenas o impacto social direto. Ninguém sabe, certamente não no governo, qual a envergadura dos efeitos da obra em populações que vivem mais distantes da futura usina e que dependem de um Xingu cuja vazão, isso já se sabe, será severamente afetada.
Por que o governo decidiu mexer num projeto tão polêmico, e que justamente por isso dormiu por tanto tempo nos escaninhos oficiais de Brasília justamente agora, a seis meses de uma eleição presidencial? Não se sabe. Lula vem defendendo a obra com argumentação nacionalista antiquada, dizendo que “eles já destruíram a floresta deles”, e insistindo que vai fazê-la não importa a oposição. Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, subsidiária do Ministério de Minas e Energia, prefere defender a obra fazendo ameaças.
Fala em apagão, possibilidade inexistente neste momento, e que a energia de Belo Monte vai garantir o conforto da população no Sul e Sudeste do país, o que é uma falsidade. Transmitir a energia gerada na região Norte para outras do país não só é ineficiente, como exigiria investimentos em linhas de transmissão que nesse momento não serão feitos. O grosso do que Belo Monte gerar vai alimentar indústrias eletro intensivas como mineradoras e siderúrgicas, que produzem matéria-prima para exportação. Na verdade, estaremos pagando para o benefício de empresários e outros países que precisam de nossos minérios e aço para sustentar seu crescimento, como a China.
“Belo Monte representa o Brasil atrasado, apegado a velhos modelos energéticos, que beneficiam poucos, mas possuem uma enorme capacidade de destruição socioambiental”, diz Beatriz Carvalho, diretora-adjunta de Campanhas do Greenpeace. “No cerne da discussão sobre Belo Monte está a questão fundamental: qual modelo de desenvolvimento queremos assegurar ao Brasil, hoje e nas próximas décadas. Defender Belo Monte significa olhar o desenvolvimento do país pelo espelho retrovisor”.

Argumentos pobres

Tolmasquim e Dilma Roussef, candidata à presidência pelo PT, insistem que a alternativa a hidrelétricas tipo Belo Monte no Brasil seria o investimento em térmicas a óleo ou carvão, o que é no mínimo uma visão míope do problema. Eles insistem que fontes de geração eólica e solar, de grande potencial no Brasil, não se prestam à geração em larga escala. Europeus e americanos discordariam. “A Alemanha no final de 2009 tinha 25.800 MW de energia eólica; a Espanha, 19.150 MW. Em toda União Europeia, 75 mil MW. Na Dinamarca, representa 20% da energia; em Portugal, 15%. Os Estados Unidos têm 35 mil MW”, escreveu Miriam Leitão em seu blog.
“Hoje, as energias eólica e de biomassa já representam opções economicamente viáveis para o Brasil e seus custos são significativamente inferiores aos da geração nuclear ou por termelétricas a óleo combustível. O custo de geração eólica é de R$150/MWh e de usinas de cogeração a biomassa R$160/MWh”, diz Ricardo Baitelo, da Campanha de Energia do Greenpeace. “A diferença tarifária para os R$83/MWh da usina de Belo Monte obviamente não compensa os graves impactos sociais e ambientais causados pelo empreendimento. Usinas nucleares e térmicas a óleo combustível custam, em outro extremo, R$240/MWh e R$550/MWh, respectivamente”.

Fonte: Greenpeace

21 abril, 2010

50 milhões de refugiados ambientais

50 milhões de refugiados ambientais

A Organização das Nações Unidas calcula que mais de 50 milhões de pessoas podem ser obrigadas a abandonar suas casas nos próximos anos por causas ambientais como elevação do nível do mar, desertificação, inundações e degradação da terra. Estatísticas da Federação Internacional da Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha são ainda mais contundentes: aqueles que hoje são refugiados devido a esses desastres somam mais do que os refugiados de guerras. As catástrofes ambientais já contribuem com grandes correntes de migração permanente, afirmaram especialistas da Universidade das Nações Unidas (UNU).
As centenas de milhares de refugiados ambientais expulsos pelos furacões Katrina e Rita da costa norte-americana do Golfo do México são "apenas a ponta do iceberg", disse Janos Bogardi, diretor do Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da UNU. "Muitas pessoas na mesma situação estão muito mais desesperadas", disse Bogardi. "Se não se cuidar da fonte do problema, a espiral fugirá do controle", acrescentou. A generosidade do público e o alívio humanitário se concentram em desastres ambientais bem divulgados, como o terremoto no Paquistão, o tsunami na Ásia e os últimos furacões do Golfo do México.
Entretanto, milhões de pessoas são obrigadas a deixar seus lares por mudanças ambientais graduais, como a desertificação, a degradação do solo ou a elevação do nível do mar. Obrigados a se mudar para qualquer outra parte, estas pessoas recebem, em comparação com as vítimas das catástrofes conhecidas, menos apoio em matéria de alimento, abrigo, cuidados médicos e ajuda financeira. Tampouco são reconhecidos como refugiados, como acontece com os que abandonam seus países por razões políticas. "Há mecanismos internacionais para ajudar os que fogem de guerras e conflitos armados, mas não existe nada para os refugiados por causas ambientais", lamentou Bogardi.
"Esta é um problema muito complexo, com organizações mundiais já saturadas pela demanda de refugiados convencionais, tal como foram definidos em 1951", disse o subsecretário-geral da ONU, Hans van Ginkel, reitor da UNU. "Deveríamos nos preparar agora para definir, aceitar e ajudar este novo grupo de refugiados dentro dos contextos internacionais", acrescentou. Especialistas afirmam que os "refugiados ambientais" devem ser cuidadosamente definidos e distinguidos dos migrantes econômicos, que abandonam voluntariamente sua terra natal em busca de uma vida melhor e que podem retornar sem sofrer perseguições.
Contudo, tal definição é um problema conflitivo, disse Tony Oliver Smith, antropólogo da Universidade da Flórida e da UNU. A opinião pública mundial crê, em geral, que quase todos os desastres ambientais são naturais, quando, de fato, muitos são conseqüência de ações humanas, como o uso insustentável dos recursos, disse Oliver Smith. Por exemplo, a população da capital do Iêmen, Sana`a, duplica a cada seis anos, em média, desde 1972, e hoje conta com 900 mil habitantes. Em contrapartida, o nível do espelho de água que abastece a cidade diminui seis metros por ano e pode esgotar-se até 2010, segundo estudos do Banco Mundial.
E, na China, o deserto de Gobi se expande mais de dez mil quilômetros quadrados por ano, ameaçando muitos povoados. O especialista Norman Myers, da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), disse que Marrocos, Túnis e Líbia perdem a cada ano mais de mil quilômetros quadrados devido à desertificação. A metade das terras irrigadas do Egito sofrem os efeitos da salinização, enquanto 160 mil quilômetros quadrados de propriedades agrícolas da Turquia sofrem os efeitos da erosão. O assessor e docente da UNU, Bem Wisner, disse que não se deve deixar de responsabilizar governos nacionais por "vínculos indevidos com madeireiras, minas a céu aberto e grandes fazendas de gado que realizam práticas que degradam a terra".
"Mesmo em caso de eventos naturais, como os furacões, construir uma cidade como New Orleans abaixo do nível do mar, em uma zona com grandes ciclones, é uma decisão humana que levou a uma catástrofe ambiental", disse Oliver Smith. As preocupações pelas toxinas presentes no meio ambiente e o custo da reconstrução resulta em que uma grande parte dos refugiados de New Orleans nunca poderão regressar, afirmou o especialista. No caso do terremoto do Paquistão, a maior parte das mortes pode ser atribuída à falta de estruturas apropriadas de construção das casas e à sua localização inadequada, considerou Oliver Smith. "Várias centenas de milhares de pessoas podem acabar como refugiadas permanentemente", acrescentou.
O principal entre os desastres ambientais de ritmo lento é a degradação da terra, como propriedades agrícolas e pastagens que não podem servir de sustento à população e ao gado devido tanto ao manejo errado das fazendas quanto pela mudança climática. Milhões de pessoas na África e Ásia foram expulsos de suas terras, e a comunidade internacional deveria agir nos casos em que os governos nacionais se vêem incapazes, afirmou Bogardi. "A vulnerabilidade aumenta em todo o mundo devido ao rápido desenvolvimento de megacidades em áreas costeiras", disse Oliver Smith. "Essa tendência, combinada com a elevação do nível do mar e a crescente quantidade e intensidade das tempestades, é a receita para um desastre antecipado, com enorme potencial de desatar ondas de emigração".
Alguns já se preparam para o pior. A ilha-Estado de Tuvalo chegou a um acordo com a Nova Zelândia para que acolha seus 11,6 mil cidadãos no caso de o Oceano Pacífico submergir o país. Estimativas indicam que cem milhões de pessoas vivem abaixo do nível do mar e em águas costeiras. A UNU propõe a criação de um painel intergovernamental sobre degradação de terras, tal como o existente para a questão da mudança climática.

Fonte: mwglobal.org/ipsbrasil
Autor: Stephen Leahy - Toronto, 14/10/2005.

Hidrelétrica no Xingu: o trem fantasma e o chabu

Hidrelétrica no Xingu: o trem fantasma e o chabu

O projeto da mega-usina hidrelétrica é bem chamado de Belo Monstro pela garotada de Altamira, pelos ribeirinhos índios e não índios do Xingu paraense e por alguns de nós adultos brancos ainda combatentes da ditadura e da destruição movida pelo capital.
Vai se confirmando o que eu escrevo há anos: mentira em cima de mentira, um dia pode desabar.
O propagandista nazista Goebbels dizia que a mentira sempre repetida torna-se verdade. Mas nem sempre ele acerta.
Quarta feira, dia 14 de abril de 2010, começou a circular a notícia de que, mais uma vez, o juiz federal de Altamira, no Pará, Antonio Carlos Campelo, havia acolhido a liminar de uma Ação Civil Pública movida por procuradores federais e determinado a suspensão da Licença Prévia ambiental do projeto Belo Monte, que havia sido concedida pelo IBAMA em fevereiro, e o cancelamento do leilão da eletricidade futura da hipotética usina, marcado para terça-feira, dia 20 de abril, pela Aneel - sim, aquela que merece o nome de Agência dos Negócios da Energia Elétrica.
Segundo o site da UOL na mesma data, "além de suspender a licença prévia e cancelar o leilão, o juiz ordenou que o Ibama se abstenha de emitir nova licença, que a Aneel se abstenha de fazer novo edital e que sejam notificados o BNDES e as empresas Norberto Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Vale do Rio Doce, J. Malucelli Seguradora, Fator Seguradora e a UBF Seguros. A notificação, diz o juiz, é ‘para que tomem ciência de que, enquanto não for julgado o mérito da presente demanda, poderão responder por crime ambiental’. As empresas também ficam sujeitas à mesma multa arbitrada contra a Aneel e o Ibama em caso de descumprimento da decisão: R$ 1 milhão, a ser revertido para os povos indígenas afetados."
A reversão dessa decisão judicial pelos advogados do executivo barrageiro lulista-sarneysista a serviço do capital hidrelétrico transnacional seria apenas uma questão de dias.
Como num verdadeiro trem-fantasma de parque de diversão, a cada curva uma surpresa. Nem sempre as informações usadas por um foram percebidas ou utilizadas pelos outros. É o caso da matéria do grande jornalista paraense Lúcio Flavio Pinto, intitulada "Belo Monte: lago cresceu", publicada em seu Jornal Pessoal no. 462 da primeira quinzena de abril: "No EIA-RIMA, a área do reservatório sofre uma ligeira correção para 515 km quadrados. Mas, no edital de licitação da obra, houve um reajuste ainda mais acentuado, para 668 km². A evolução, a parir da primeira versão do novo projeto, já passou de 50%. Embora em valores absolutos a diferença não seja tão expressiva, o percentual é alto demais para que a dança de números transcorra sem explicações. E até mesmo sem cobranças, já que os opositores do projeto não parecem ter observado a mutação".
Meu recado para quem anda articulando mais uma Ação Civil Pública, a qual corre o risco de, como as demais, apenas ‘fazer as coisas menos mal feitas’, eis um bom motivo para enquadrar o crime de falsidade ideológica, já que a Licença Prévia diz um número e o edital diz outro, e ambos foram paridos pelo mesmo poder. A não ser que se decida que a Agência de Negócios Elétricos não faz parte de nenhum poder...
Bem, do jeito que vai, acabará sendo como a obra de Jirau no rio Madeira, onde, depois de obtidas a Licença Prévia e a Licença de Instalação, as transnacionais barrageiras mudaram o eixo de barramento quase dez quilômetros rio abaixo, o que provocará o alagamento de terras e a expulsão de moradores nunca previstos nem estudados no EIA.
Ou então... Vai dar chabu! Salvo engano excepcional, do qual me redimirei se preciso, as pistas que levam ao chabu geral são:
1. O investimento seria da ordem de 30 bilhões de reais, mas o governo insiste com valores de 18, 19, 22 bilhões, nessa faixa. Ninguém sabe de fato o custo dos canais imensos concretados, 500 metros de largura, 20 metros de profundidade, nem das dezenas de diques laterais que formariam as cinco represinhas dos igarapés afluentes da margem esquerda do Xingu no interior da Volta Grande.
A colunista Miriam Leitão repercutiu isso no dia 10, logo após a desistência das duas maiores empreiteiras em participar do leilão: "Sobre Belo Monte, recaem muitas dúvidas. De toda ordem: financeira, ambiental, de engenharia. Isso é que está assustando investidores. ‘Há um canal gigantesco que precisa ser feito, cujo estudo nunca foi feito adequadamente. Não se sabe se esse terreno é 90% pedra e 10% terra, ou o contrário. O custo do canal vai depender da natureza desse terreno’, diz Mario Veiga, presidente da PSR".
2. O maior roubo já articulado pelos honoráveis bandidos: seja o que for, nenhum grande banco privado quis entrar, o governo obriga o BNDES a bancar sem os técnicos do banco terem analisado detalhadamente se dá ou não retorno, o governo pressiona agora a Petros, o Funcef e a Previ – fundos de pensão dos petroleiros e dos bancários, há anos sendo dirigidos pela aristocracia cutista, para colocarem a grana, ou melhor, a pensão futura dos trabalhadores e de suas viúvas, sem o devido respaldo de análise de retorno. Enquanto isso, quase todas as grandes empresas seguradoras ficam só olhando e as concorrentes do leilão exigem que o Tesouro Nacional securitize o risco... Nem Al Capone faria tão bem.
Quando até a Miriam Leitão publica no Globo.com artigo intitulado "Na lei ou na marra" é porque o Belo Monstro também virou pauta da imprensa golpista, ou, se quiserem, da campanha serrista. Segundo ela: "Em Belo Monte, prepara-se para fazer concessões maiores para atrair investidores a qualquer preço e iniciar a obra em qualquer contexto jurídico, passando por cima de quaisquer dúvidas ambientais. Isso porque, como disse o presidente: ‘Belo Monte será construída’. Talvez seja mesmo, mas antes será preciso cumprir a lei. Na marra, não será possível".
3. O risco geotécnico. Esse é o grande segredo que em 2009 alguns deixaram escapar e que agora parece ter motivado de fato a desistência da Odebrecht e da Camargo Correa, que soa incompreensível sob qualquer outro angulo. A Camargo, com o seu escritório CNEC, está insuflando os projetos no Xingu desde a década de 1970, quando, entre otras cositas, contribuía para a repressão sobre os opositores da ditadura. Mas é o corpo técnico que melhor conhece o projeto e os locais onde seria construído.
Se o risco geotécnico for o motivo, há razões: o piso da Volta Grande é a transição entre o terreno cristalino do planalto central e o terreno aluvionar da planície amazônica, tem trechos de terreno cáustico (com carbonatos de cálcio, frágil, furado, cavernoso), as lajes por onde o riozão se espalha, e às vezes mergulha por debaixo, mostram fraturas rochosas longas, profundas, em forma de mosaico, que são visíveis na morfologia da Volta Grande e talvez sejam bem mais graves por baixo da camada visível.
4. E claro, lá estão de olho os Kaiapó, alguns milhares, que sobreviveram aos massacres seculares, vieram vindo desde o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás para o Mato Grosso e o sul do Pará, não tendo agora mais para onde ir. Conhecem os brancos melhor do que nós mesmos, e vão guerrear até morrer.
5. "Last but not least", estão no ar as campanhas do James ‘Avatar’ Cameron, do cantor Sting e de várias Ongs barulhentas, incluindo os aliados do bispo de Altamira, dom Erwin Krautler, e parte da sua igreja aqui e na Europa. Esse pessoal já monitora os fatos e estrila como nunca dantes ocorreu.
Os demais argumentos dissidentes (pouca energia do rio para tanta potência instalada, mais de vinte mil atingidos sem reassentamento, graves perdas ambientais, audiências públicas manipuladas e sob repressão fardada...) são justos e importantes, mas não o suficiente para fazer o projeto naufragar. Fica a incógnita se a candidatura Dilma naufraga junto ou não.
Por enquanto, a aliança petista-sarneysista, da qual Belo Monstro virou emblema, está somente fazendo água, levando susto a cada curva.

Fonte: Correio da Cidadania - 20/04/10
Oswaldo Sevá é professor da Universidade Estadual de Campinas, engenheiro, doutor em Geografia Humana pela Universidade de Paris-I, colaborador dos ameaçados e dos atingidos pelas barragens, estudioso de hidrelétricas há 35 anos e do projeto Belo Monte há 22 anos.

20 abril, 2010

A origem da expressão "Tio Sam"

A origem da expressão "Tio Sam"



O nome Tio Sam vem de Samuel Wilson, cujo apelido era Uncle (tio) Sam.
De onde vem a expressão “Tio Sam” para designar os Estados Unidos?

Vem de Samuel Wilson (1766-1854), cujo apelido era Uncle (tio) Sam. Responsável pelo fornecimento de carne para o exército americano na guerra de 1812 com a Inglaterra, o comerciante Wilson carimbou as embalagens com um enorme US, para designar o destinatário, United States. Como, porém, essa ainda não era a abreviação oficial do país, um empregado de Wilson imaginou que aquelas letras representassem as iniciais do apelido do patrão. O erro propagou-se e o envio das rações militares passou a ser atribuído à generosidade desse personagem, que conquistou o carinho de todo o país e com ele acabou sendo identificado. Em 1961, o Congresso dos Estados Unidos oficializou a expressão Tio Sam como símbolo nacional.

Revista Superinteressante

02 abril, 2010

A difícil transição paulista

A difícil transição paulista

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O Estado de São Paulo vive um de seus maiores desafios históricos: como continuar sendo a locomotiva econômica que dirige o país?
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Quando se completa a primeira década do século 21, o Estado de São Paulo demonstra viver um de seus maiores desafios históricos, qual seja, o de continuar sendo a locomotiva econômica que dirige o país. Na perspectiva recente, isso parece estar comprometido diante de importantes sintomas de decadência antecipada.
Entre 1990 e 2005, por exemplo, o Estado paulista registrou o segundo pior desempenho em termos de dinamismo econômico nacional, somente superando o Rio de Janeiro, último colocado entre os desempenhos das 27 unidades da Federação.
Atualmente, o Estado paulista responde por menos de um terço da ocupação industrial nacional - na década de 1980, era responsável por mais de dois quintos dos postos de trabalho em manufatura.
Simultaneamente, concentra significativo contingente de desempregados, com abrigo de um quarto de toda mão de obra excedente do país - há três décadas registrava somente um quinto dos brasileiros sem trabalho.
Em consequência, percebe-se a perda de importância relativa no total da ocupação nacional, que decaiu de um quinto para um quarto na virada do século passado para o presente.
Se projetada no tempo, essa situação pode se tornar ainda mais grave, com São Paulo chegando a responder por menos de 20% da ocupação nacional, por um terço de todos os desempregados e apenas por um quinto do emprego industrial brasileiro no início da terceira década do século 21.
Essa trajetória pode ser perfeitamente revertida, uma vez que não há obstáculo econômico sem superação.
A resposta paulista, contudo, precisaria vir da montagem de uma estratégia inovadora e de longo prazo que não seja a mera repetição do passado.
Na visão da antiga oligarquia paulista, governar seria fundamentalmente abrir estradas, o que permitiria ocupar o novo espaço com o natural progresso econômico. Por muito tempo, o Estado pôde se privilegiar dos largos investimentos governamentais em infraestrutura, o que permitiu transitar das grandes fazendas produtoras e exportadoras de café no século 19 para o imenso e diversificado complexo industrial do século 20.
Em apenas duas décadas, o Estado paulista rebaixou a concentração de quase dois terços de sua mão de obra no setor primário para menos de um terço, dando lugar ao rápido crescimento do seu proletariado industrial.
Com isso, a ocupação em manufatura convergiu para São Paulo, passando a representar 40% de todos os empregos industriais do país na década de 1960, contra um quarto em 1940.
Em virtude disso, o protagonismo paulista reverberou nacionalmente por meio do ideário de que seria a locomotiva a liderar economicamente o Brasil grande. Tanto que não era incomum à época que as lideranças de outros Estados sonhassem com a possibilidade de repetir o caminho paulista. O principal exemplo se deu com a implantação de uma "mini-São Paulo" no meio da Floresta Amazônica, por intermédio da exitosa implantação da Zona Franca de Manaus.
Para as décadas vindouras, o futuro tende a exigir a ampliação predominante do trabalho imaterial, cujo principal ativo é o conhecimento.
Não significa dizer que as bases do trabalho material (agropecuária e indústria) deixem de ser importantes, pois é estratégico o fortalecimento das novas fontes a protagonizar o dinamismo econômico do século 21.
Se houver força política nesse sentido, o Estado de São Paulo poderá transitar para a continuidade da condição de liderança econômica da nação, passando a responder por 40% do total do trabalho imaterial do país.
Os esforços de transformação são inegáveis, pois, além da necessária oxigenação de suas instituições, os próximos governos precisariam inverter suas prioridades, com a adoção, por exemplo, de um gigantesco e revolucionário sistema educacional que assegure as condições necessárias do acesso de todos ao ensino, do básico ao superior, ademais da educação para a vida toda e com qualidade.
Na sociedade do conhecimento em construção, a liderança econômica não surgirá da reprodução de sistemas de ensino comprometidos com o passado, tampouco de relações governamentais com profissionais da educação compatíveis com o século 19.
Ainda há tempo para mudanças contemporâneas, sobretudo quando a política pública é capaz de romper com o governo das ideias ultrapassadas. Sem isso, o fantasma da decadência reaparece, fazendo relembrar as fases de liderança econômica de Pernambuco durante a colônia e do Rio de Janeiro no império.

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MARCIO POCHMANN, 47, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy).

Fonte: Folha de São Paulo - 30/03/10

Os EUA e a "pacificação presidencial" na América Latina

Os EUA e a "pacificação presidencial" na América Latina

Barack Obama é o quarto presidente estadunidense a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, unindo-se a outros dentro de uma longa tradição de pacificação que desde sempre serviu aos interesses dos EUA. Os quatro presidentes deixaram sua marca em nossa “pequena região” ("nosso quintal"), que "nunca incomodou ninguém", como caracterizou o secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em 1945. Dada a postura do governo de Obama diante das eleições em Honduras, em novembro último, vale a pena examinar esse histórico.

Theodore Roosevelt

Em seu segundo mandato como presidente, Theodore Roosevelt disse que a expansão de povos de sangue branco ou europeu durante os quatro últimos séculos viu-se ameaçada por benefícios permanentes aos povos que já existiam nas terras onde ocorreu essa expansão (apesar do que possam pensar os africanos nativos, americanos, filipinos e outros supostos beneficiados).
Portanto, era inevitável e, em grande medida, desejável para a humanidade em geral que o povo estadunidense terminasse por ser maioria sobre os mexicanos ao conquistar a metade do México, além do que estava fora de qualquer debate esperar que os (texanos) se submetessem à supremacia de uma raça inferior. Utilizar a diplomacia dos navios de artilharia para roubar o Panamá da Colômbia e construir um canal também foi um presente para a humanidade.

Woodrow Wilson

Woodrow Wilson é o mais honrado dos presidentes premiados com o Nobel e, possivelmente, o pior para a América Latina. Sua invasão do Haiti, em 1915, matou milhares de pessoas, praticamente reinstaurou a escravidão e deixou grande parte do país em ruínas.
Para demonstrar seu amor à democracia, Wilson ordenou a seus mariners que desintegrassem o Parlamento haitiano a ponta de pistola em represália pela não aprovação de uma legislação progressista que permitiria às corporações estadunidenses comprar o país caribenho. O problema foi resolvido quando os haitianos adotaram uma Constituição ditada pelos Estados Unidos e redigida sob as armas dos mariners. Tratava-se de um esforço que resultaria benéfico para o Haiti, assegurou o Departamento de Estado a seus cativos.
Wilson também invadiu a República Dominicana para garantir seu bem-estar. Esta nação e o Haiti ficaram sob o mando de violentos guardas civis. Décadas de tortura, violência e miséria em ambos países foram o legado do idealismo wilsoniano, que se converteu em um princípio da política externa dos EUA.

Jimmy Carter

Para o presidente Jimmy Carter, os direitos humanos eram a alma de nossa política externa. Robert Pastor, assessor de segurança nacional para temas da América Latina, explicou que havia importantes distinções entre direitos e política: lamentavelmente a administração teve que respaldar o regime do ditador nicaragüense Anastásio Somoza, e quando isso se tornou impossível, manteve-se no país uma Guarda Nacional treinada nos EUA, mesmo depois de terem ocorrido massacres contra a população com uma brutalidade que as nações reservam para seus inimigos, segundo assinalou o mesmo funcionário, e onde morreram cerca de 40 mil pessoas.
Para Pastor, a razão era elementar: os EUA não queriam controlar a Nicarágua nem nenhum outro país da região, mas tampouco queriam que os acontecimentos saíssem do seu controle. Queriam que os nicaragüenses atuassem de forma independente, exceto quando essa independência afetasse os interesses dos Estados Unidos.

Barack Obama

O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. A quartelada refletiu abismais e crescentes divisões políticas e socioeconômicas, segundo o New York Times. Para a reduzida classe social alta, o presidente hondurenho Manuel Zelaya converteu-se em uma ameaça para o que esta classe chama de democracia, que, na verdade, é o governo das forças empresariais e políticas mais fortes do país.
Zelaya adotou medidas tão perigosas como o incremento do salário mínimo em um país onde 60% da população vive na pobreza. Tinha que ir embora. Praticamente sozinho, os EUA reconheceram as eleições de novembro (nas quais saiu vitorioso Pepe Lobo), realizadas sob um governo militar e que foram uma “grande celebração da democracia”, segundo o embaixador de Obama em Honduras, Hugo Llorens. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina.
Depois das eleições, Lewis Anselem, representante de Obama na Organização de Estados Americanos (OEA), aconselhou aos atrasados latinoamericanos que aceitassem o golpe militar e seguissem os EUA no mundo real e não no mundo do realismo mágico.
Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar. O governo estadunidense financia o Instituto Internacional Republicano (IRI, na sigla em inglês) e o Instituto Nacional Democrático (NDI) que, supostamente, promovem a democracia. O IRI apóia regularmente golpes militares para derrubar governos eleitos, como ocorreu na Venezuela, em 2002, e no Haiti, em 2004. O NDI tem se contido. Em Honduras, pela primeira vez, esse instituto concordou em observar as eleições realizadas sob um governo militar de fato, ao contrário da OEA e da ONU, que seguiram guiando-se pelo mundo do realismo mágico.
Devido à estreita relação entre o Pentágono e o exército de Honduras e à enorme influência econômica estadunidense no país centroamericano, teria sido muito simples para Obama unir-se aos esforços latinoamericanos e europeus para defender a democracia em Honduras. Mas Barack Obama optou pela política tradicional.
Em sua história das relações hemisféricas, o acadêmico britânico Gordon Connell-Smith escreve: "Enquanto fala, da boca para fora, em defesa de uma democracia representativa para a América Latina, os Estados Unidos têm importantes interesses que vão justamente na direção contrária e que exigem um modelo de democracia meramente formal, especialmente com eleições que, com muita freqüência, resultam numa farsa".
Uma democracia funcional pode responder às preocupações do povo, enquanto os EUA estão mais preocupados em construir as condições mais favoráveis para seus investimentos privados no exterior? Requer-se uma grande dose do que às vezes se chama de ignorância intencional para não ver esses fatos. Uma cegueira assim deve ser zelosamente guardada se é que se deseja que a violência de Estado siga seu curso e cumpra sua função. Sempre em favor da humanidade, é claro, como nos lembrou Obama mais uma vez ao receber o Prêmio Nobel.

Fonte: patrialatina.com.br
Autor: Noam Chonsky
Tradução: Katarina Peixoto
Postado em 09/01/2010

Toma lá, não dá cá

Toma lá, não dá cá

No mundo globalizado, os blocos econômicos aceleram o comércio mundial. Mas os acordos entre países ricos e pobres dependem de negociações que estão emperradas há anos.

A atual crise econômica global atinge em cheio o movimento de expansão do comércio entre os países de todo o planeta, que já dura quase 20 anos. Desde o início dos anos 1990, as exportações mundiais crescem aceleradamente, mas, nos últimos dois, a redução da demanda dos países desenvolvidos, em especial dos Estados Unidos (EUA), do Japão e das nações europeias, interrompeu essa tendência. Os efeitos foram sentidos já em 2007, quando o crescimento do comércio mundial de mercadorias caiu dos 8,5% observados em 2006 para 6%, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). No fim de 2008, a situação era ainda mais alarmante e atingia um número maior de países.
A China, que apresenta as taxas de crescimento econômico mais altas do planeta desde o início desta década, sentiu o baque. Em dezembro último, o comércio exterior chinês teve a maior queda desde 1999. As importações recuaram 21,3% em relação a dezembro de 2007, e as exportações, 2,8%. A ameaça de recessão nos EUA e na União Européia (UE) sinaliza, ainda, para uma queda de 20% nas exportações chinesas para os próximos meses, em relação a 2007.

Comércio global

O fluxo intenso de produtos e serviços entre países e uma característica da globalização. Além da interdependência das economias de todos os países, a globalização caracteriza-se, ainda, pela formação de blocos econômicos, como a UE, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Sob as regras da economia globalizada, esses blocos ajudam a abrir as fronteiras de cada nação ao livre trânsito de capitais e pessoas, ao reduzir barreiras alfandegárias, como práticas protecionistas.
Os blocos econômicos aceleraram o comércio mundial. Antes, qualquer produto importado chegava ao consumidor com o valor muito alto, em razão dos rigorosos controles alfandegários e das taxações. Os acordos entre os países de um mesmo bloco reduziram essas barreiras, promovendo a liberalização do comércio.
O bloco econômico mais importante da atualidade é a UE, tanto pela força de algumas de suas economias - como as da França, da Alemanha e do Reino Unido – quanto pela profundidade das relações entre seus países-membros. A maioria das nações da UE adota uma moeda única, o euro, e, entre os países do bloco, a população - e, portanto, a mão-de-obra - circula livremente. Uma das razões para a criação da UE foi a necessidade que as nações europeias sentiam de enfrentar a concorrência pesada dos Estados Unidos.
Os norte-americanos reagiram, constituindo o Nafta e tornando o México e o Canadá economias diretamente vinculadas a sua. Os EUA também integram a Área de Livre Comércio da Ásia e do Pacífico (Apec), de que fazem parte também Japão, China, Austrália e Chile, entre outros países.
Na América do Sul, o grande bloco é o Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela está em processo de adesão desde 2006. Quatro anos após sua fundação, o bloco instalou uma área de livre comércio que isenta de tarifas de importação 90% das mercadorias fabricadas na região. Como resultado, o intercâmbio entre as nações salta de 4 bilhões de dólares em 1990 para 20 bilhões em 1998. Desde sua origem, o Mercosul tem nos EUA seu principal parceiro comercial. Ao mesmo tempo, os EUA buscam fechar o maior número possível de tratados diretamente com os países do continente (acordos bilaterais), visando a uma futura ligação entre todos - o que é visto como ameaça à coesão do Mercosul.

Impasse na OMC

As negociações sobre as normas que regem o comércio global estão emperradas desde 2006 na Rodada Doha, da OMC. Fundada em 1995, a organização conta com 153 países-membros e funciona por rodadas, que duram alguns anos e tem como objetivo obter acordos sobre determinados pontos de regulamentação do comércio internacional. O que está em discussão no momento são a redução dos subsídios agrícolas que os países ricos concedem aos produtores locais e a queda nas tarifas de importação. Essas medidas protecionistas encarecem os produtos importados, dificultando sua entrada no mercado. As nações industrializadas, como os EUA e países da UE, até concordam em baixar um pouco as barreiras alfandegárias e reduzir os privilégios para seus produtores - desde que, em troca, os exportadores de produtos agrícolas, entre eles Brasil e Índia, derrubem as taxas impostas sobre os produtos industrializados comprados lá fora.
O problema é que, sem proteção alfandegária, a indústria dos países em desenvolvimento não consegue competir com os produtos estrangeiros – o que condenaria essas nações a eterna dependência econômica e ao subdesenvolvimento. Assim, sem acordo, a Rodada Doha, que começou em 2001 e deveria acabar na reunião de 2006, continua até hoje. As nações da OMC apostam no novo presidente norte-americano, Barack Obama, que assumiu o posto em janeiro. Ele é visto como peça-chave para mudar o rumo das negociações ou para encerrar de vez a Rodada Doha.



 
Fonte: Atualidades Vestibular - 2010.

Urbanização - Brasil

Urbanização  - Brasil

País urbano - A população brasileira passou a ser majoritariamente urbana em 1965 e, hoje, o país está entre os mais urbanizados do planeta, com mais de 80% dos habitantes morando nas 5.564 cidades brasileiras.

Regiões metropolitanas - O Brasil possui 31 regiões metropolitanas, que abrigam um terço dos domicílios urbanos e 30% da população do país. A maior delas, a Grande São Paulo, é uma "megalópole" com 18 milhões de habitantes.

Problemas - A urbanização desordenada acentua a desigualdade social. O déficit habitacional de 7,2 milhões de moradias contribui para a favelização e para o crescimento da população de rua. A falta de investimentos em transporte público provoca engarrafamentos e poluição do ar pelos carros. O Ministério das Cidades estima que 2% do PIB do país seja perdido em congestionamentos.

Critério - Há uma diferentes critérios para medir a urbanização. A maioria dos países desenvolvidos considera zona urbana a aglomeração na qual 85% da população vive em área com densidade populacional superior a 150 pessoas por Km². Para o IBGE, zona urbana é toda sede de município e distrito, não importando a concentração de pessoas.

Fonte: Atualidades Vestibular - 2010.

Urbanização - Mundo

Urbanização - Mundo

O que é - Urbanização é o aumento da proporção da população que vive nas cidades em relação à que vive no campo. Atualmente, ela é mais acelerada em países em desenvolvimento ou pouco desenvolvidos. Desde 2008, a população urbana mundial é maior que a rural, e essa proporção continua crescendo.

História - A construção de grandes cidades é uma marca da sociedade humana desde a Antiguidade. Os avanços da agricultura e a oferta de alimentos propiciaram o crescimento da população e do número de cidades na Europa e Ásia. A industrialização dá origem à urbanização como a conhecemos a partir do século XVIII na Europa, nos séculos XIX e XX nos Estados Unidos e no Japão e, após a década de 1950, nos países menos desenvolvidos.

Problemas - O aumento da população das cidades pode provocar o inchaço urbano quando o local não é dotado da infraestrutura necessária para as pessoas que nele se instalam. Cidades que incham sofrem problemas como a carência de moradias e serviços de saneamento básico, poluição do ar e dos mananciais, violência e criminalidade.

Fonte: Atualidades Vestibular - 2010.

China

China

Economia - Com um crescimento de 9,7% do PIB em 2009, a China já ultrapassou a Alemanha e se tornou a terceira potência econômica mundial, atrás apenas dos EUA e do Japão. A mão de obra barata e um mercado interno de 1 bilhão de consumidores motivaram a instalação de empresas estrangeiras, principalmente nas Zonas Econômicas Especiais. A crise internacional desacelerou o crescimento, mas o país se recupera em razão de um pacote governamental de estímulo à indústria.

Problemas - A ausência de medidas de preservação do meio ambiente para acompanhar o crescimento econômico causa problemas como a poluição de rios e do ar. Com o crescimento industrial, também aumentou a desigualdade social. A renda média dos 10% mais ricos é 12 vezes maior que a dos 10% mais pobres. De acordo com o Banco Mundial, 135 milhões de chineses vivem abaixo da linha da pobreza.

Governo - O país pe comandado por um único partido político, o Partido Comunista da China (PCCh), num regime ditatorial e repressivo.

Fonte: Atualidades Vestibular - 2010