31 março, 2010

Reacomodação no Mapa Mundi: as rachaduras no bloco ocidental

Reacomodação no Mapa Mundi: as rachaduras no bloco ocidental

As ondas concêntricas formadas pela crise de epicentro nos EUA vão alcançando, com diferentes intensidades, cada região. Em alguns casos se trata apenas de marolas – como se gabara um ano atrás o presidente do Brasil – mas em outros essas ondas têm a potência de fortes maremotos, capazes de destruir velhas alianças e abrir o jogo a novos atores. A década que recém começa promete grandes mudanças, algumas das quais já se vislumbram.
O caso mais notório, no que todos os observadores concordam, é a vigorosa ascensão da China à única potência capaz de suplantar os EUA. Ao mesmo tempo, se sucedem outras mudanças menos visíveis, não tão contundentes, mas que representam ‘cargas de profundidade’ ao sistema de alianças no qual se assentou a hegemonia ocidental do último meio século, ou seja, desde que em 1945 terminou a segunda guerra mundial.
A Alemanha aprofunda seu distanciamento de Washington e se aproxima da Rússia; a Turquia faz o mesmo, e também se distancia de Israel e se aproxima da Síria e do Irã; o Japão entra em colisão com a política militar do Pentágono e estira a mão a China. Mais ainda: setores da União Européia pedem a entrada da Rússia na OTAN e o Brasil já tem um verdadeiro conflito com a Casa Branca. De acordo com todas as informações, é apenas o começo de um profundo rearranjo que não deixará nada em seu lugar. Um exemplo: o recente ataque especulativo dos hedge funds¹ ao euro provocou uma crescente desconfiança dos europeus com Wall Street, a ponto de Alemanha e França cogitarem criar o Fundo Monetário Europeu.

A Turquia acorda²

Durante a guerra fria, a Turquia foi a principal aliada do ocidente no Oriente Médio (junto de Israel), cuja missão delegada e acatada consistia em conter a União Soviética. A presença militar estadunidense na Turquia sempre foi um elemento considerado estratégico pelo Pentágono. Esse papel deu início a um lento degelo desde que em 1989 se derrubou a União Soviética e desapareceram as ameaças provenientes do leste que mantiveram o país amarrado a Washington. Nos últimos meses, tal processo se acelerou a ponto de constituir "a mais profunda revisão efetuada por Ankara desde sua entrada na OTAN em 1952".
O ataque israelense à Faixa de Gaza em dezembro de 2008 foi, segundo o GEAB, o acontecimento que acelerou a mudança de orientação turca. Depois, veio a decisão de revogar a autorização à aviação israelense para realizar treinamentos no espaço aéreo turco. Em outubro de 2009, Ankara rechaçou a participação de Israel em manobras da OTAN e anunciou a realização de manobras conjuntas com a Síria.
Se o anterior significa uma mudança na contramão do que os EUA esperam de um aliado, as coisas foram mais longe ainda quando o primeiro ministro turco, Recep Erdogan, se definiu publicamente como amigo do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, selando a negativa em acompanhar as sanções ao Irã por conta de seu programa nuclear. As crescentes dificuldades para a entrada da Turquia na UE são outro ponto de fricção com os países ocidentais. As condições da UE para aceitar a adesão foram mal recebidas no país, tanto pelo governo como por uma opinião pública sensível a qualquer intromissão forasteira, já que vai se abrindo espaço para a percepção de que são rejeitados pelos europeus.
O último conflito se desatou no começo de março, quando a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes aprovou uma declaração que qualifica de "genocídio" os massacres de armênios durante o Império Otomano. A resolução irritou o governo turco porque, em sua opinião, demonstra que o governo estadunidense "não insistiu suficientemente" em seus esforços para impedir tal distinção. O ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, agregou que seu governo estava "extremamente afetado" (AFP, 5/3). Os armênios pressionam nos EUA para que sejam reconhecidos como "genocídio" os massacres e deportações nos quais mais de 1,5 milhão de armênios que perderam a vida entre 1915 e 1917. Por sua vez, a Turquia reconhece a morte de 300 000 a 500 000 pessoas, mas alega que não foram vítimas de uma campanha de extermínio, mas do caos dos últimos anos do Império Otomano. A polêmica está à mesa e a Casa Branca não poderá conformar ambos os lados, entretanto, Hillary Clinton assegurou que "trabalharemos muito duro" para evitar que o projeto chegue ao plenário da Câmara dos Representantes.
Essa virada da Turquia para fora do campo ocidental acontece enquanto governa um partido religioso, o AKP, e se debilita o poder dos militares, que sempre foram o setor mais pró-ocidental do país. Em fevereiro, foram detidos 67 militares do alto escalão, dos quais 31 foram enviados à prisão provisória, acusados de terem tramado um golpe de Estado em 2003, um ano depois de eleito o atual governo turco.

Alemanha e Japão

Em fins de fevereiro, o ministro alemão de relações exteriores, Guido Westervwelle, pediu aos EUA que retirem as armas nucleares que mantém neste país (Der Spiegel, 25/02). O ministro alemão seguiu os passos de Noruega, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que enviaram uma carta ao secretario geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, para que a próxima conferência do organismo discuta a desnuclearização da Europa.
A Alemanha abriga 20 dos 200 mísseis nucleares que o Pentágono possui estacionados na Europa. Ainda que Westerwelle venha solicitando há alguns meses uma medida de tal tipo, alguns analistas estimam que ele trata de utilizar o tema para sintonizar-se com uma opinião pública que há anos rejeita as armas nucleares e exige veementemente sua retirada. Seja como for, há dois fatos incontrastáveis: a Alemanha consolida sua autonomia dos EUA, algo que vem acontecendo desde que o chanceler Willy Brandt lançou no início da década de 70 a Ostpolitk para afirmar relações pacíficas com a União Soviética. Tal autonomia foi mais visível quando Alemanha, França e Rússia se negaram a acompanhar, no Conselho de Segurança da ONU, os EUA em sua escalada para invadir o Iraque em 2003. O segundo é a dura reação de Washington. Mais uma vez correspondeu à senhora Clinton chamar as coisas pelo nome: "Este mundo perigoso ainda precisa de dissuasão", disse, e pediu que "não haja nenhuma medida precipitada que a enterre".
Um passo mais estão dando Alemanha e França (ambos com governos conservadores) ao propor à Comissão Européia a criação do Fundo Monetário Europeu, como reação ao feroz ataque especulativo de Wall Street sobre a Grécia e a Espanha (Le Monde, 8/3). Foi o ministro da Fazenda alemão, Wolfgang Schäuble que vinculou o tema à estabilidade do euro, esclarecendo de modo muito significativo que "a zona do euro é capaz de solucionar seus problemas por conta própria", rechaçando a intervenção do FMI.
O contencioso entre EUA e Japão é mais recente, mas pode afetar toda a arquitetura da superpotência no Pacífico. Em 31 de agosto passado, o Partido Democrata bateu o Partido Liberal pela primeira vez em 55 anos. Washington perdeu um aliado, algo que foi visível quando o novo primeiro ministro, Yukio Hatoyama, encarou de forma diferente o velho litígio sobre as bases estadunidenses em Okinawa.
Até esse momento, vinha se negociando um acordo pelo qual se pudessem transferir parte das tropas da Ilha de Okinawa a Guam, e realocar a base em outra região da mesma ilha. Mesmo assim, o governo de Hatoyama pede, sem rodeios, que todas as tropas se retirem. A disputa foi esquentando quando vieram à luz, nesta última semana, informações que revelam que o Partido Liberal e os EUA tinham pactos secretos que violavam leis japonesas e enganaram a opinião pública.
Com efeito, a Constituição nipônica estabelece – como conseqüência das tragédias de Hiroshima e Nagasaki – os princípios de não possuir, não produzir e não permitir armas nucleares. Uma comissão especial do Ministério das Relações Exteriores acaba de difundir que houve acordos para que, por exemplo, os barcos estadunidenses com armamento nuclear pudessem entrar nos portos japoneses, já que nos anos 60 e 70 o governo manteve um programa nuclear secreto com os EUA, que permitia a estes transportar armamento atômico pelo território nacional sem necessidade de consulta prévia.

Brasil aumenta a crise

A profundidade da crise em curso debilita o papel dos EUA no mundo, a tal ponto que toda a rede de alianças tecida desde 1945 está fazendo barulho. Os ruídos se escutam nos rincões mais inesperados do planeta, e ainda que não tenham a envergadura dos três casos detalhados acima, merecem um acompanhamento para confirmar o crescimento da tensão nas relações internacionais. Quatro fatos recentes confirmam que vivemos em um mundo mais instável.
A recente visita do vice-presidente Joe Biden a Israel mostra um distanciamento sem precedentes entre ambos aliados. Biden viajou para conversar com Benjamin Netanyahu e convencê-lo a instalar uma mesa de negociações com os palestinos, já que Barack Obama considera a resolução do conflito no Oriente Médio a peça chave de seu objetivo de melhorar as relações com o mundo árabe. Mas Biden foi recebido com a notícia da construção de 1600 novas casas em Jerusalém leste. Em contrapartida, Lula conseguiu impactar em sua recente visita a Israel, quando não apenas se manteve firme em sua condenação a qualquer ataque ao Irã como se mostrou possível "ponte" no conflito, como assinala Pepe Escobar (Asia Times, 18/03).
Em que pese Biden e Netanyahu serem amigos há duas décadas, a Casa Branca considerou a notícia uma ofensa, a ponto de Obama tomá-la como insulto pessoal. A pequena vingança de Biden foi chegar uma hora e meia atrasado ao jantar com o primeiro ministro israelense. É improvável que as coisas vão mais longe, em vista da potência do lobby judeu nos EUA, mas no Congresso não são poucos os que acreditam que chegou a hora de reiniciar um "processo de punição" contra Israel (El País, 12/03).  
Em 8 de março quatro importantes personalidades alemãs publicaram uma carta aberta em vários veículos exigindo a entrada da Rússia na OTAN. Trata-se de Rühe Volker, ministro da Defesa de 1992 a 1998, o general aposentado Klaus Naumann, ex-presidente do Comitê Militar da OTAN, o embaixador Frank Elbe, diretor de Planejamento na chancelaria, e o vice-almirante e ex-diretor de Planejamento da Defesa, Ulrich Weisser. Estimam que a OTAN precisa da Rússia para resolver os problemas no Afeganistão e no Oriente Médio e também para garantir segurança energética (Der Spiegel, 8/3). Este posicionamento coletivo reforça a percepção da direção que estão tomando os interesses alemães e, por tabela, franceses.
Já as relações entre a China e os EUA não deixam de se deteriorar, por motivos militares, econômicos e políticos. Depois do questionado encontro entre Obama e o Dalai Lama, Washington anunciou a venda de um pacote de armas a Taiwan, avaliado em 6,4 bilhões de dólares, enquanto Pequim anunciava represálias às empresas envolvidas. Em todo caso, o mais significativo é uma reviravolta na política chinesa de compra de títulos do Tesouro estadunidense, que se traduz na venda de 45 bilhões de dólares de tais títulos nos últimos cinco meses.
O Diário do Povo, órgão do Partido Comunista, foi muito claro em sua edição de 24 de fevereiro. "A vultosa dívida e o déficit orçamentário do governo estadunidense só podem ser controlados com a emissão de dólares, o que levaria a desvalorização dos ativos denominados nessa moeda". Até fins de 2009, a China era o maior do dono de títulos norte-americanos, lugar agora ocupado pelo Japão. O periódico estima que com uma dívida de 90% do PIB e um déficit fiscal próximo dos 11% do PIB, os investidores estão "seqüestrados" pelo dólar. Para romper essa situação, "a China deve acelerar o caminho rumo à internacionalização da moeda chinesa, reduzir sua demanda de dólares e o coeficiente de dólares em seus superávits de pagamentos, para aliviar assim a crescente pressão econômica derivada da influência que exerce o desequilíbrio externo do país".
Por último, as relações entre a Casa Branca e o Brasil vêm se deteriorando mês a mês, como atesta a recente visita da senhora Clinton ao presidente Lula. Os pontos em disputa são muito variados e alguns estiveram em cartaz nos últimos meses: as sanções ao Irã, a reconstrução do Haiti, a democracia em Honduras, as bases na Colômbia e a disputa comercial. Lula foi muito claro e disse que impor sanções ao Irã pode ser prejudicial ao diálogo com o país e ainda defendeu o direito de qualquer país de enriquecer urânio a 20% como autoriza o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Em todo caso, foi um dos assuntos mais espinhosos na agenda. O outro é a decisão do Brasil de aplicar sanções comerciais aos EUA em 560 milhões de dólares, por subsídios a seus produtores de algodão. O chanceler Celso Amorim disse que o Brasil prefere não entrar na via do contencioso legal, mas o país "não vai se curvar" ante nações mais fortes. A mensagem, no entanto, vai muito mais além: os EUA não estão em condições de impor sua vontade na região, que alguma vez foi seu quintal.

¹ Os conceitos chave para entender os "hedge funds" são, portanto, "agressividade", "risco elevado" e, principalmente, "alavancagem": a prática de tomar recursos no sistema bancário para aumentar (alavancar) a aposta numa operação financeira, buscando maximizar os ganhos.
² "El despertar de Turquía: la progresiva salida del campo occidental", GEAB No. 39, del Laboratorio europeo de Anticipación Política, 17 de noviembre d 2009.

Fonte: Correio da Cidadania - 31/03/10
Autor: Raúl Zibechi, jornalista uruguaio, é professor e pesquisador da Multiversidad Franciscana de América Latina, e assessor de vários movimentos sociais. 

28 março, 2010

Degelo não afetou circulação do Atlântico

Degelo não afetou circulação do Atlântico

Estudo afirma que corrente do Golfo não enfraqueceu nas últimas duas décadas, apesar do derretimento visto no Ártico.
Redução de corrente que leva calor à Europa é um dos impactos mais temidos da mudança do clima e inspirou filme-catástrofe em 2004.

No filme-catástrofe "O Dia Depois de Amanhã", de 2004, o aquecimento global provoca o desligamento da corrente oceânica que leva calor à Europa e causa uma era glacial. Nos últimos anos, alguns estudos sugeriram que esse cenário já poderia estar acontecendo. Mas um pesquisador americano afirma que o temor não tem fundamento: a chamada corrente do Golfo continua firme e forte.
Talvez até mesmo ligeiramente mais forte, afirma Josh Willis, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. Como o oceano Atlântico está mais quente, pelo menos nas últimas duas décadas o volume de água transportado aumentou.
A chamada circulação termo-halina do Atlântico, sistema do qual a corrente do Golfo faz parte, ajuda a distribuir o calor do planeta, funcionando como um colossal radiador.
A água quente, menos densa, viaja pela superfície do mar. Ao chegar ao Ártico, ela resfria e fica mais salgada. Como a água salgada é mais densa, a corrente afunda e muda de sentido, retornando ao Equador como uma corrente fria submarina.
Desde a década passada, alguns estudos sugerem que o degelo maciço do Ártico poderia lançar tanta água doce no oceano que acabaria com a diferença de salinidade, fazendo com que a corrente parasse de afundar. O cinturão de convecção seria desligado, resfriando a Europa em até 5°C.
Há evidências fortes de que isso tenha acontecido há 12 mil anos, quando o fim da última glaciação despejou água das geleiras que cobriam a América do Norte e a Europa no mar.
Em 2005, uma série de medições feitas pelo grupo do oceanógrafo britânico Harry Bryden, da Universidade de Southampton, sugeriu que já havia um enfraquecimento de 30% na corrente.
O estudo, publicado no periódico "Nature", causou pânico. Mas o mesmo grupo, dois anos depois, publicou na mesma revista um outro trabalho mostrando que o enfraquecimento se devia à variabilidade natural da circulação.
Em seu relatório de 2007, o IPCC (o painel do clima da ONU) afirmou que grandes mudanças na circulação oceânica "não podem ser avaliadas" devido a incertezas.
No novo estudo, publicado ontem no periódico "Geophysical Research Letters", Willis desenvolveu um método para tentar reduzir essa incerteza.
Ele combinou medições de satélites com dados dos flutuadores robóticos Argos, um conjunto de boias automatizadas que mergulham até 2.000 m e sobem depois, medindo temperatura e salinidade ao longo da coluna d'água.
É a primeira vez que alguém usa essas duas fontes de dados para avaliar a convecção no Atlântico Norte. (As medições de Bryden foram feitas em navios.) É também a série de medições mais longa dessa circulação, indo de 1993 a 2009.
Willis descobriu que o volume de água que afunda no Atlântico Norte é de cerca de 15 sverdrups, com incerteza de 2,4 sverdrups para mais ou para menos. Um sverdrup equivale a 1 milhão de metros cúbicos por segundo, volume d'água despejado no oceano por todos os rios da Terra juntos. Esse volume varia de ano a ano, mas não existe nenhuma tendência significativa de enfraquecimento ou fortalecimento da circulação entre 2002 e 2009.
Olhando só os dados de satélite, porém, o estudo indica um fortalecimento de 2,6 sverdrups na circulação desde 1993. É um número desprezível, dada a margem de erro, mas consistente com o aquecimento do Atlântico nesse período (que aumenta o volume de água quente transportada).
A conclusão de Willis é: pelo menos por enquanto, não criemos pânico. O volume de gelo que derrete no Ártico ainda é insuficiente para afetar a circulação termo-halina. "Ninguém está prevendo outra era do gelo como resultado de mudanças na circulação do Atlântico", diz o cientista.

Fonte: Folha de São Paulo - 27/03/10

26 março, 2010

Governo "fatia" Amazônia para guiar ações

Governo "fatia" Amazônia para guiar ações

Macrozoneamento define 10 áreas principais e limita novos assentamentos rurais no coração da floresta

A Amazônia Legal será dividida em dez áreas e cada uma delas terá uma estratégia própria de preservação e de desenvolvimento econômico.
O fatiamento faz parte do chamado "macrozoneamento" da região, apresentado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente e que, em dias, deve ser transformado em decreto pelo presidente Lula.
Na prática, esse documento passa a ser uma diretriz para qualquer tipo de ação territorial, econômica (pública e privada) e ambiental nos Estados do Norte, em Mato Grosso e parte do Maranhão.
O decreto presidencial não criará novas regras. Por isso, para funcionar de fato, terá de contar com a colaboração de Estados e municípios.
"Esse olhar conjunto da Amazônia é uma estratégia para que a região possa ser mais preservada, se desenvolva e esse zoneamento não fique no papel", disse ontem o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente).
A definição das dez áreas ocorreu após anos de conversas. Cada área tem a sua característica e sua estratégia.
Por exemplo: a primeira, chamada de "coração florestal", pega quase a totalidade de Acre e Amazonas e trechos de Pará, Amapá e Roraima. O objetivo é deixá-la quase intocável, já que abriga a maior porção de florestas intocadas da região. Nessa região, novos assentamentos rurais serão limitados.
Outra área, que pega o sul do Amazonas e o centro-sul paraense, chamada de "contenção de frentes de expansão", servirá como uma espécie de cinturão verde para proteger o avanço da soja e da pecuária. Para isso, será priorizada a criação de unidades de conservação.
No norte de Mato Grosso estará a área "diversificação da fronteira agroflorestal e pecuária". A ideia é focar ali na implantação de uma indústria sustentável da madeira e incentivos à expansão da agricultura em pastagens degradadas.

Lista suja

Ontem, oficialmente, Paragominas (PA) deixou a chamada lista suja dos campeões do desmatamento na Amazônia. Agora 42 municípios permanecem na lista, criada por um decreto presidencial de 2007.
Quem aparece na lista fica sujeito à restrição de créditos oficiais e somente deixa o cadastro após cumprir alguns critérios: como cadastrar 80% de suas propriedades rurais e diminuir o desmatamento em relação aos anos anteriores.

Fonte: Folha de São Paulo - 25/03/10

Perda de florestas cai 19% em uma década

Perda de florestas cai 19% em uma década

Queda no desmatamento na Indonésia e no Brasil e reflorestamento na China explicam resultado, indica relatório da ONU.
Segundo coordenadora, é a primeira vez que índice tem queda em mais de 60 anos; América do Sul e África ainda lideram devastação.

Uma boa notícia, para variar: a perda de florestas no mundo caiu 19% nesta década em relação aos anos 1990, graças a reduções expressivas no desmatamento no Brasil e na Indonésia e a esforços maciços de reflorestamento na China. Os dados são da FAO, órgão da ONU para alimentação e agricultura.
É a primeira vez que se registra uma queda na perda de cobertura vegetal desde 1946, quando a FAO começou a produzir a Avaliação Global de Recursos Florestais, publicado a cada cinco anos.
"No último relatório, de 2005, nós não conseguimos ver nenhuma diferença em relação ao anterior. Então, é uma boa notícia", disse à Folha a coordenadora do estudo, Mette Wilkie, sobre o novo dado.
No mundo inteiro, entre 2000 e 2010, 13 milhões de hectares de florestas foram perdidos, uma área pouco maior que a do Estado do Pará. Entre 1990 e 2000, o total perdido foi de 16 milhões de hectares, o equivalente a toda a região Centro-Oeste do Brasil.
As perdas anuais caíram de 8,3 milhões de hectares para 5,2 milhões. Ainda assim, diz a FAO, o número é "alarmante": o mundo perde o equivalente a uma Costa Rica por ano.
Tradicionalmente vilipendiados como maiores desmatadores e maiores emissores de gás carbônico por desmatamento do mundo, Brasil e Indonésia foram os principais responsáveis por puxar para baixo o índice de perda de cobertura florestal desta vez.
No Brasil, o desmate caiu de 2,9 milhões de hectares na década passada para 2,6 milhões nesta década. "Não parece muito por causa do período longo analisado, mas a queda que houve no desmatamento no Brasil de 2005 para cá foi substantiva", elogia Wilkie.
Segundo ela, a conjuntura econômica ajudou, com a baixa nos preços de commodities agrícolas, mas o esforço "do governo Lula" para reduzir o desmatamento foram importantes. Wilkie também mencionou como positiva a meta brasileira de reduzir o desmatamento amazônico em 80% até 2020.
O Brasil também foi o campeão de criação de áreas protegidas nesta década. "Metade do que foi criado no mundo inteiro foi no Brasil", afirma Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente.

Democracia verde

Na Indonésia, a queda proporcional no desmatamento foi ainda mais expressiva do que no Brasil: de 1,6 milhão de hectares perdidos nos anos 1990 para 500 mil nesta década.
O fator determinante da redução, aparentemente, foi a democratização do país em 1998, quando o ditador Mohamed Suharto foi deposto.
"Nos anos 1990, o desmatamento foi em parte causado por uma continuação da política de transmigração dos anos 1980, quando muitas pessoas de Java foram transferidas para regiões de floresta", diz Wilkie. Nesta década, o governo também parou de autorizar megadesmatamentos para plantações de dendê (que, no entanto, continuam avançando).
"A Indonésia não dá tanta publicidade quanto o Brasil a seus esforços de redução de emissões, mas os números falam por si", disse Wilkie.

Fonte: Folha de São Paulo - 26/03/10

24 março, 2010

ESTADOS UNIDOS-CHINA: Guerra comercial quase aberta

ESTADOS UNIDOS-CHINA: Guerra comercial quase aberta

As relações entre os Estados Unidos e a China estão longe de serem cordiais desde o começo deste ano, e as previsões não indicam melhora.

Um projeto de lei apresentado no Senado norte-americano aponta nessa direção, pois ataca práticas comerciais chinesas e inclui artigos que obrigariam o governo de Barack Obama a acusar o gigante asiático de manipulação indevida de sua moeda, abrindo espaço para represálias às importações desse país.
Os senadores que apresentaram o projeto insistem nas práticas comerciais injustas da China, mas também se referem às condições econômicas nacionais que criam incentivos para que os Estados Unidos assumam políticas mais protecionistas. Há tempos Washington se queixa que Pequim mantém deliberadamente baixo o valor de sua moeda frente ao dólar, o que dá grande competitividade aos seus produtos que entram no mercado norte-americano.
“É uma mensagem ao governo chinês: se negar-se a jogar pelas mesmas regras que todo o mundo, vamos obrigá-lo a isso. A manipulação da moeda será inaceitável”, disse o senador Charles E. Schumer, ao apresentar o projeto de lei no dia 16/03/10. “Com desemprego de 10%, simplesmente não podemos aceitar. Não há nenhuma medida melhor para adotarmos a fim de promover a criação de postos de trabalho, sobretudo na área da manufatura, do que combater a manipulação da moeda chinesa”, acrescentou. No dia 15, mais de cem integrantes do Congresso assinaram uma carta dirigida a Obama pedindo que acuse a China de distorcer o valor de sua moeda.
Duas vezes ao ano, o Departamento do Tesouro publica uma lista de países que “manipulam as taxas cambiais entre suas moedas e o dólar norte-americnao para alterar sua balança de pagamentos ou obter vantagem competitiva indevida no comércio internacional”. Mas a China nunca entrou nessa lista. Em uma coluna publicada no dia 14, no The New York Times, o economista Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia, disse que é hora de os Estados Unidos enfrentarem o problema da subvalorização da moeda chinesa, impondo tarifas alfandegárias de 25% às importações procedentes desse país.
Algumas estimativas indicam que o yuan tem desvalorização entre 20% e 40%. As cobranças de ações contra o yuan não são ignoradas por Pequim. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, dedicou duras palavras a Washington em uma entrevista coletiva no dia 14. Nessa ocasião, quando atribuiu o mau momento das relações bilaterais ao fato de o governo de Obama “violar a soberania territorial chinesa” com seus acordos de venda de armas para Taiwan e pela reunião com o Dalai Lama, líder espiritual da conflitiva região do Tibete.
“Em primeiro lugar, não creio que o renminbi (nome oficial da moeda chinesa) esteja desvalorizado”, disse Wen. “Somos contra os países se acusarem entre si ou tomarem medidas para obrigar outros a valorizar suas moedas. Isto não beneficiará a reforma do regime cambiário do renminbi”, acrescentou. O governador do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, afirmara, no início deste mês, que o valor do yuan atrelado ao dólar era uma medida “especial” que não seria mantida indefinidamente.
“Quando mais alto e forte falarem as autoridades dos Estados Unidos sobre isto, e mais reclamarem da China para que valorize sua moeda, menos possibilidades haverá para que essa medida seja tomada no curto prazo”, disse a especialista em estudos chineses Bonnie Glaser, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, com sede em Washington. O governo chinês é muito reticente a agir sob pressão externa. “Mesmo reconhecendo que deveria ajustar o valor da moeda, a oportunidade dessa medida será decidida em função de seus interesses”, acrescentou.
No dia 16, um porta-voz do Ministério do Comércio da China disse à imprensa que “esperamos que as empresas norte-americanas presentes neste país expressem suas reclamações e pontos de vista nos Estados Unidos, para promover o desenvolvimento do intercâmbio internacional e juntos nos opormos ao protecionismo”. Em 2005, o valor do yuan foi ajustado de US$ 8,27 para US$ 8,11 e foi implantado o câmbio fixo. Agora, a moeda chinesa se move em relação aos valores de uma cesta de divisas dominada pelo dólar, euro, iene e o won sul-coreano.
Entre aquele ano e 2008, a moeda chinesa foi desvalorizada em 20%. Entretanto, os que continuam questionando a política cambial chinesa, como os senadores Schumer e Lindwsey Graham, que conduziram a apresentação do projeto de lei, sentem-se frustrados pela demora de um ajuste semelhante. “Se lermos nas entrelinhas do que disse Jiabao, nada está descartado. Mas a retórica dura e a carta dos legisladores tornam muito difícil os chineses dizerem: de acordo, diante da pressão norte-americana, faremos o ajuste”, disse Glaser. A questão cambial não é a única que amarga os vínculos entre Pequim e Washington.
Em setembro, Obama autorizou uma tarifa alfandegária excepcional de 35% para as importações de pneus chineses, para deter um grande aumento nas compras desse produto que, segundo os sindicatos, causou a perda de sete mil empregos na indústria. Pequim imediatamente condenou a decisão e ameaçou tomar medidas semelhantes. Em janeiro, a norte-americana Google anunciou que contas de e-mail de diplomatas, ativistas pelos direitos humanos e jornalistas foram invadidas por hackers chineses.
A secretária de Estado Hillary Clinton se referiu ao tema, na época, e expôs a posição de Washington sobre o roubo de propriedade intelectual, segurança na Internet e a censura que a China exerce sobre a rede mundial de computadores. Pequim respondeu acusando os Estados Unidos de exercerem um “imperialismo informativo” e rechaçando as acusações de suposta participação do governo em ataques de hackers.
No mês passado, a China ameaçou com sanções as empresas norte-americanas que tomassem parte de um iminente acordo de venda de armas para Taiwan, que, para Pequim, é uma província renegada, no valor de US$ 6,4 bilhões. Desde que a crise econômica de 2008 começou a ser sentida nos dois países, Pequim busca conseguir que mais recursos de sua favorável balança de pagamentos não sejam investidos em divisas norte-americanas, mas em ações e produtos básicos. Enquanto isso, cobra-se de Obama que enfrente o crescente déficit comercial com a China e exerça maior pressão para conseguir uma reavaliação substancial da moeda asiática.

Fonte: mwglobal.org/ipsbrasil.net
Autor: Eli Clifton

POPULAÇÃO: ONU cobra inclusão social urbana

POPULAÇÃO: ONU cobra inclusão social urbana

De um lado os bairros ricos, do outro as grandes favelas. É uma nefasta divisão que a Organização das Nações Unidas exortou a combater, na abertura, ontem, do Fórum Urbano Mundial.

O chamado para envolver os governos contra os níveis “muito altos ou inaceitáveis” de desigualdade foi feito pela diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Anna Tibaijuka.
Na primeira das cinco jornadas da quinta edição deste encontro, que tem como tema “O direito à vida: unindo o urbano dividido”, Tibaijuka disse que os líderes mundiais devem investir na melhoria das condições de vida, para que todos tenham direito às “vantagens urbanas”. Referia-se ao “conjunto de oportunidades” que as cidades concentram. Desde serviços básicos como saneamento, saúde, educação, equipamentos públicos e emprego formal, que, segundo a funcionária, “nunca foram tão valiosos para o desenvolvimento humano”.
Tibaijuka destacou que estes desafios impõem “novas conexões e alianças” em ter todas as áreas de governo, da presidencial à municipal, para otimizar os recursos financeiros e operacionais existentes. Um informe da ONU-Habitat apresentado antes do Fórum, intitulado “Estado das cidades do mundo 2010/2011”, indica que 227 milhões de pessoas no mundo deixaram de viver em assentamentos precários entre 2000 e 2010. Mas, segundo alertou, ainda restam 827 milhões de pessoas nestas condições nas grandes cidades, 61% delas na África e 24% na América Latina. O estudo diz que há 55 milhões de novos habitantes de favelas que se somaram à população urbana mundial. Para a responsável da ONU-Habitat, esse tipo de conglomerado habitacional é “a forma mais cruel da divisão urbana”, temas que exortou a serem discutidos internacionalmente junto a outros como contaminação ambiental e crescimento descontrolado. O Fórum, que recebe 16 mil participantes de todo o mundo, discute uma agenda de seis temas: Levando adiante o direito à cidade, Unindo o urbano dividido, Acesso igualitário à moradia, Diversidade cultural nas cidades, Governabilidade e participação e Urbanização sustentável e inclusiva.
Em mensagem enviada ao encontro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ratificou o chamado aos governos. Disse que a comunidade internacional é responsável por investir nestas melhorias. O Presidente Luiz Inácio Lula da silva assegurou ter tomado medidas nesse sentido “como nunca antes na história” do País. Entre outras, detalhou programas de distribuição de renda, planos de moradia e saneamento básico para todos. Na abertura do Fórum, Lula disse que no século atual é responsabilidade dos governantes “projetar uma cidade com melhor qualidade de vida”.
“A segunda coisa mais importante é reparar os desmandos causados por muitos administradores do século XX, que permitiram que muitas cidades, no Brasil e no mundo, se transformassem em uma grande favela”, acrescentou Lula. O Presidente atribuiu a falta de obras de saneamento nos bairros pobres a uma questão eleitoral. Disse que dá mais votos inaugurar uma ponte. E acrescentou que a “pequenez” dessa gente é não ter percebido que a “imagem mais digna” que um governante pode deixar como administrador é a de “uma criança podendo brincar descalço na rua sem pisar em esgoto a céu aberto”.
O mencionado informe da ONU especifica que na última década o Brasil reduziu sua população de favelas em 16%, ou 10,4 milhões de pessoas. A ONU-Habitat toma como parâmetros para classificar esses assentamentos precários, acesso à água potável, saneamento básico, qualidade da moradia e densidade de habitantes por metro quadrado. A ONU atribuiu a redução das favelas no Brasil a políticas sócio-econômicas implementadas nos últimos anos. Também a redução das taxas de crescimento de população e do êxodo de camponeses para a cidade. O Presidente Lula confirmou esses dados, após convidar os participantes do fórum a visitar as favelas cariocas próximas, embora admitindo seus perigos de violência.
Criado em 2001 pela Assembleia Geral da ONU, o Fórum Urbano Mundial reúne delegados de governos, da sociedade civil e do setor privado. Mas os participantes do Fórum Social Urbano, que acontece na zona portuária do Rio de Janeiro, não se consideram representados pelo encontro oficial. Convocados por organizações sociais, de luta pela moradia, de camponeses, estudantes e sindicalistas, este encontro paralelo surgiu – como o Fórum Social Mundial, em contraponto ao Fórum Econômico de Davos – explicou à IPS Guilherme Matos, um de seus organizadores.
Este estudante de planejamento urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que o fórum da ONU “tem pouco espaço para o debate popular”, por questões de organização e também conceituais. O Fórum Social Urbano, que começou com uma manifestação de aproximadamente mil pessoas, também contará com especialistas em temas de criminalização da pobreza e violência urbana, justiça ambiental na cidade, grandes projetos urbanos e megaeventos.
Fonte: mwglobal.org/ipsbrasil.net
Autora: Fabiana Frayssinet

23 março, 2010

O que fracassou em Copenhague?

O que fracassou em Copenhague?


Analistas e ativistas foram unânimes em afirmar o fracasso da 15ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-15), realizada na capital da Dinamarca em dezembro de 2009. A COP-15 reuniu nada menos que 119 chefes de governo de 192 países, um feito inédito.
O evento foi acompanhado com grande expectativa pelos povos do mundo todo que já sofrem as trágicas conseqüências do aquecimento global – tsunamis na Ásia, furacões nos EUA, ondas de calor na Austrália, tempestades no Brasil, degelo das calotas polares no Ártico e na Antártida.
A conferência culminava dois anos de negociações no âmbito da ONU e visava elaborar um programa de cooperação internacional para combater as mudanças ambientais que ameaçam a vida na Terra. O seu objetivo central era garantir a fixação de metas para emissão de gases que provocam efeito estufa e evitar o aquecimento global acima de 2ºC até 2050 – após esse limite as conseqüências das mudanças climáticas seriam irreversíveis. Para que isso aconteça o mundo precisaria reduzir suas emissões em 80% nas próximas quatro décadas.

O que, de fato, fracassou em Copenhague?

A abordagem adotada para o problema das mudanças climáticas restringiu a questão aos seus efeitos, qual seja, o aquecimento da temperatura do planeta causado pelas emissões de dióxido de carbono. Além disso, circunscreveu as possibilidades de ação àquelas que significassem novos negócios para as grandes corporações transnacionais, expandindo o "capitalismo verde" movido a agrocombustíveis, alimentado por transgênicos resistentes a um clima mais adverso e pelas negociações de créditos de carbono em bolsa de valores.
Sem dúvida que as emissões destes gases representam um grave problema ambiental e de saúde. Hoje são 30% mais altas do que na época em que a Convenção sobre Mudança do Clima foi firmada, na Cúpula da Terra realizada no Rio de Janeiro, em 1992.
No ritmo atual de crescimento, estas emissões poderiam mais do que triplicar até o fim deste século, o que significa 50% de risco de que a temperatura global subisse 5°C. A esse nível, o aquecimento global impacta de forma catastrófica os biomas, comprometendo as formas de vida das populações que os habitam. No Brasil, espaço da maior biodiversidade da Terra e que abriga um quinto das espécies do planeta, a Amazônia teria 40% de sua cobertura florestal transformada em savana e o rio São Francisco teria sua vazão reduzida em 70%.
Ocorre que os países centrais do capitalismo, que emitem as maiores quantidades de dióxido de carbono – como EUA, Inglaterra, Alemanha e Japão – e as maiores economias da periferia, com suas indústrias poluidoras – China, Brasil, Rússia – pactuaram e garantiram que não se abordassem na conferência as causas das emissões. Ou seja, esses países preservaram o modelo de produção e consumo hoje hegemônico em seus territórios e na maioria do planeta onde imperam os seus próprios interesses. O resultado evidente será o sacrifício da natureza, a ampliação das desigualdades sociais e a inviabilidade futura da vida no planeta.
Mesmo diante do tão limitado enfoque adotado, o documento final da conferência registra o fracasso das negociações. O texto prevê apenas redução de 50% das emissões de dióxido de carbono em 2050 e não determina metas obrigatórias para redução até 2020. Antes do início da cúpula, os países estipulavam como objetivo mínimo definir em Copenhague metas de redução para os próximos dez anos. Nem isso se conseguiu e este fracasso ameaça a eficácia do já superado Protocolo de Kyoto, de 1997, cujas metas de redução para 2012 eram próximas de 6%.
Em relação aos outros pontos da agenda defendida pelos países que comandaram a cúpula, o documento também é vago. Não detalha o funcionamento do fundo a ser criado pelos países ricos para financiar os países mais afetados pelo aquecimento global, deixando brechas para que seja disputado também por grandes corporações interessadas em negócios vinculados aos agrocombustíveis e comércio de carbono. Obviamente, o texto nem menciona possibilidade de controle social sobre os recursos deste fundo, deixando aberta a possibilidade de corrupção.
O governo do Brasil seguiu a estratégia adotada desde Kyoto e manteve-se alinhado aos interesses dos países europeus e suas poderosas corporações transnacionais. Coube a Lula, com ampla cobertura da mídia internacional, o papel de reforçar a necessidade de EUA e China cumprirem a agenda de redução de emissões, ao mesmo tempo em que tentava fazer com que os países periféricos se comportassem dentro da agenda limitada que orientou a conferência. Esta postura foi contraponto às manifestações contundentes de alguns países africanos e latino-americanos – notadamente as intervenções do presidente da Bolívia, Evo Morales, que rechaçou não apenas a abordagem reducionista assumida na conferência sobre o problema climático, como também a forma pouco democrática com que a cúpula foi conduzida.
Copenhague, entretanto, também evidenciou sinais de esperança. As manifestações populares, fortemente reprimidas pela polícia local, chegaram a reunir 100 mil pessoas em marcha pela capital dinamarquesa e um fórum não-governamental – o Klima Fórum – promoveu dezenas de debates com cientistas, militantes e representantes de alguns governos da América Latina e África e propiciou alianças fundamentais em torno de programas de ação que ampliaram a agenda de luta anticapitalista com as necessárias preocupações ecológicas.
Entre os principais consensos do Klima Fórum, resumidos em documento intitulado "Mudemos o sistema, não o clima", consta abandonar completamente os combustíveis fósseis nos próximos 30 anos e reconhecer e compensar a dívida climática e os efeitos negativos das mudanças climáticas sobre as populações afetadas.
A eficácia no enfrentamento das mudanças climáticas dependerá da abordagem que for dominante nas ações dos países e das Nações Unidas até o próximo encontro de cúpula, que deve acontecer no final de 2010, na Cidade do México. A depender da agenda hoje hegemônica, não há esperança de avanços que signifiquem superar as causas efetivas dos problemas ambientais que ameaçam a vida na Terra.

Fonte: Correio da Cidadania
Autores: Thomaz Ferreira Jensen, Elisa Helena Rocha de Carvalho e José Juliano de Carvalho Filho 

Brasil e Estados Unidos: a visita de Hillary Clinton

Brasil e Estados Unidos: a visita de Hillary Clinton

O relacionamento entre Brasil e Estados Unidos mantém-se regular nos últimos anos, sem nenhuma altercação de monta. A razão básica para a cordialidade tem sido a entusiasmada manutenção das diretrizes econômicas, estruturadas ainda durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Do ponto de vista comercial, houve a correta tentativa de diversificação dos parceiros comerciais no início da gestão Lula, porém limitada, em decorrência da especialização crescente do Brasil no agronegócio, a fim de cativar o mercado de certos países, em detrimento do seu setor manufaturado, cujo campo de atuação poderia estender-se mais à América do Sul e África.
No tocante aos Estados Unidos, a relação é estreita, próxima da com a China, apesar de um ou outro arrufo – cite-se a recente vitória do Brasil na Organização Mundial do Comércio, em vista da concessão indevida de auxílio do governo norte-americano ao setor algodoeiro.
Há poucos dias, a titular do Departamento de Estado, Hillary Clinton, esteve durante dois dias no Brasil, um dos cinco países visitados em sua excursão na América Latina – ao assumir um cargo no Executivo, faz-se oportuno consignar que o parlamentar estadunidense não pode meramente licenciar-se. A renúncia é obrigatória, o que auxilia a preservar o equilíbrio entre os três poderes.
Oficialmente, a pauta de Clinton no Brasil era ampla, mas, na prática, centrou-se no Irã, país com o qual Washington relaciona-se problematicamente desde 1979, quando houve a substituição da corrompida monarquia secular por uma teocracia islâmica, do ramo xiita. Em sua análise, o país caminha para tornar-se uma ditadura militar, por causa do crescente papel na política da Guarda Revolucionária Islâmica.
Constata-se de modo geral a ausência de divergências significativas bilateralmente, mas, no multilateral, há sim, em face da aspiração brasileira de assentar-se de maneira definitiva no Conselho de Segurança das Nações Unidas, local em que está mais uma vez temporariamente.
Os Estados Unidos desejam que o Conselho de Segurança estabeleça mais sanções ao Irã por causa do caráter aparentemente militar de sua política nuclear. De acordo com a Casa Branca, Teerã busca enriquecer o urânio acima do uso civil, em torno de 20%. Em tal posicionamento, acompanham-nos Grã-Bretanha, França e Rússia.
Por outro lado, a China, para a qual o Irã é o terceiro fornecedor de petróleo, recomenda um esforço maior nas negociações, antes de um enrijecimento nas Nações Unidas, posição compartilhada pelo Brasil.
De todo modo, o prazo para a definição de uma postura final de Brasília é a viagem de Lula em maio ao Irã. No entanto, não está cristalina a justificativa da posição brasileira concernente a isso – seria credenciar-se para mediar conflitos na região médio-oriental, com o fito de demonstrar a capacidade de atuação do país?
A dificuldade de Washington em granjear apoio político junto à América Latina em questões como a iraniana deriva da conservação das linhas gerais da política externa do governo Bush. Na campanha, os democratas haviam reconhecido o distanciamento norte-americano da região, ainda que temporariamente justificado em função da intensificação de esforços no combate ao terror.
Assim, ofertou-se a possibilidade de renovar o diálogo. Contudo, a postura da Casa Branca relativamente ao golpe de Estado em Honduras melindrou muitos países latino-americanos, diante da aceitação tácita de Washington, mesmo ad hoc, de uma ruptura institucional como o encaminhamento para a solução de conflitos políticos.
Desta maneira, a política externa estadunidense caminha para a ‘normalidade’ na região, termo caro aos conservadores para expressar acomodação de governos nos quais se manifestava a possibilidade de mudança quando da campanha eleitoral. Assim, mantém-se a mesma desconfiança dos anos anteriores por parte dos sul-americanos.
Um dos meios utilizados pelos republicanos para a quietação é dificultar a nomeação dos indicados às embaixadas e secretarias, ao adiar a sua sabatina. Em alguns casos, o Executivo recua e aponta nomes mais moderados, com o objetivo de conseguir a aprovação.
Às vezes, o atraso é meramente disposto como uma mensuração de poder entre os dois partidos, ao não direcionar-se diretamente ao nome apresentado. É o caso dos comissionamentos no Brasil, aprovado o nome de Thomas Shannon em dezembro último, e na Secretaria de Assuntos Hemisféricos (voltada para as Américas), autorizado o de Arturo Valenzuela em novembro do ano passado.

Fonte: Correio da Cidadania - 16/Março/2010

Autor: Virgílio Arraes

21 março, 2010

República Democrática do Congo: Europa se suja com minerais sangrentos

República Democrática do Congo:  Europa se suja com minerais sangrentos

A organização Global Witness pediu à União Europeia (UE) que proíba o tráfego de minerais extraídos da República Democrática do Congo (RDC), pois alimentam a brutal guerra civil nesse país africano.

“Pedimos à UE que aprove uma lei que exclua do mercado europeu os minerais procedentes da conflitiva região oriental da RDC”, disse Lizzie Parsons, da Global Witness (Testemunha Global), uma organização internacional que investiga os vínculos entre exploração de recursos naturais e violações de direitos humanos.
Os grupos armados manejam a maior parte do comércio de minerais do leste da RDC, segundo a entidade. Obtêm lucros multimilionários por meio do controle abusivo das minas e da exigência de subornos ou impostos. Companhias dos Estados-membros da União Europeia estão entre os compradores. O comércio ilegal de minerais é conhecido por ser um dos fatores que avivam a violência e contribui para as violações de direitos humanos desde o começo da guerra nesse país.
Ativistas pelos direitos humanos há tempos denunciam que as organizações rebeldes da RDC vendem minerais para comprar armas. Além disso, cometem terríveis atropelos contra a população civil, desde assassinatos em massa, violações e torturas até recrutamento forçado de menores. A Global Witness reuniu informações na região nos últimos meses, e visitou minas controladas por grupos armados. Os insurgentes seriam muito mais pobres e teriam muito menos armas se não existisse o comércio de minerais. “Sabemos que representam uma proporção significativa de sua renda”, disse Parsons.
A Global Witness quer que os que recebem mineral da RDC identifiquem as minas de onde são retirados. Também recomenda inspeções e auditorias que sustentem essas declarações. Algumas empresas se esforçam, mas não é suficiente, segundo a organização. “As políticas das empresas ficam no papel. Há outras, como a norte-americana Apple, que nem mesmo reconhece o problema”, ressaltou Parsons.
Os chamados “minerais sangrentos”, como estanho, tantálio e tungstênio, são levados da RDC para a Ásia-Pacífico, onde são transformados em matéria-prima muito valiosa para a indústria de produtos eletrônicos, como câmeras fotográficas digitais, telefones celulares, computadores portáteis ou reprodutores multimídia portáteis como os i-Pods da Apple. Os governos pouco fazem para deter o comércio de minerais sangrentos, segundo a Global Witness. Um projeto de lei foi apresentado ao Senado dos Estados Unidos, em maio de 2009, para obrigar as empresas desse país a revelar a origem de seu fornecedor.
A UE confirmou sua vontade de cooperar de maneira mais formal e no âmbito judicial na luta contra a exploração ilegal desses minerais, segundo o representante especial do bloco para a região dos Grandes Lagos, Roeland van de Geer. Mas até agora não aprovou nenhuma lei que impeça os minerais procedentes da RDC de entrarem em território europeu.
“Alguns especialistas sugerem uma adaptação do ‘modelo Kimberley’, que regula os diamantes, mas outros acreditam que é pouco provável que as leis internacionais sirvam para lutar contra a exploração ilegal de minerais”, disse Van de Geer. O processo Kimberley é um sistema de certificação integrado por dezenas de governos para evitar o comércio de diamantes cuja exploração custeia guerras.
O escritório do representante da UE funciona como secretaria de uma equipe de trabalho dedicada ao tema da exploração dos recursos naturais no leste da RDC. O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que prepara o caminho para congelar os ativos e proibir as viagens de companhias que apoiam de forma indireta as organizações armadas da RDC por meio da compra de minerais sangrentos.
A exploração ilegal de recursos naturais não é um fenômeno novo na região oriental da RDC. Pelo contrário, é uma característica do conflito que começou em 1996 e que está bem documentado por organizações não governamentais e pelo Grupo de Especialistas das Nações Unidas sobre Exploração de Recursos Naturais desse país.

Fonte: mwglobal.org/ipsbrasil.net

20 março, 2010

Enchentes

Enchentes

Todos os anos é a mesma coisa na época das chuvas de verão. As regiões metropolitanas das grandes cidades enfrentam as enchentes que desabrigam milhares de pessoas, além de ferir e até matar outras tantas. Normalmente os maiores prejudicados são as pessoas pobres da periferia que não possuem condições seguras e ideais de moradia, estando a mercê das precárias condições urbanísticas da cidade.
As enchentes são calamidades naturais ou não que ocorrem quando um leito natural recebe um volume de água superior ao que pode comportar resultando em transbordamentos. Pode ocorrer em lagos, rios, córregos, mares e oceanos devido a chuvas fortes e contínuas. São consideradas, entre as catástrofes naturais, as que mais danos causam à saúde da população e ao patrimônio, com elevada morbimortalidade, em decorrência do efeito direto das inundações e das doenças infecciosas secundárias aos transtornos nos sistemas de água e saneamento.
Com a chegada da estação das chuvas, cresce a preocupação sobre o aparecimento de doenças, sobretudo as transmitidas por água, alimentos, vetores, reservatórios e animais peçonhentos. Este fato gera a necessidade de intensificação das ações de vigilância em saúde de forma oportuna, coordenada e articulada com outros setores e com base em dados para a tomada de decisões.
As enchentes, nos dias de hoje, são resultado de um longo processo de modificação e desestabilização da natureza por forças humanas, que acompanha o crescimento rápido e não planejado da maior parte das cidades.
Antigamente, as várzeas (margens dos rios) faziam o controle natural da água. O solo ribeirinho era preparado para ser inundado nas épocas de cheia, absorvia boa parte da água que transbordava e utilizava seus nutrientes. Hoje, quase todas as várzeas nas áreas urbanas se encontram ocupadas. Também uma imensa área às margens dos rios foi impermeabilizada pelo concreto, o que aumenta o volume de água a ser escoado.
Em áreas rurais ocorre com menos freqüência, pois o solo bem como a vegetação se compromete a fazer a evacuação da água pela sucção da mesma provocando menores prejuízos. Normalmente ocorre com menos força não atingindo consideráveis alturas que provocariam a perda de alimentos armazenados, de máquinas e outros objetos. Já nas áreas urbanas, ocorre com maior freqüência e força trazendo grandes prejuízos. Acontece pela interferência humana deixando assim de ser uma calamidade natural. A interferência humana ocorre em vários estágios começando pela fundação de cidades em limites de rios, pelas alterações realizadas em bacias hidrográficas, pelas construções mal projetadas de diques, bueiros e outros responsáveis pela evacuação das águas e ainda pelo depósito errôneo de lixo em vias públicas que, com a força das águas, são arrastados causando o entupimento dos locais de escoamento de água (bueiros e galerias).

 Principais causas das enchentes:
  • alto índice pluviométrico da região;
  • desmatamento;
  • assoreamento do leito dos rios;
  • retificação dos rios. Na natureza, os rios com considerável volume de água são curvilíneos, ou seja, caminham como uma serpente. Esse trajeto diminui de forma considerável a velocidade da água. Retificá-lo significa aumentar sua velocidade, o que agrava a situação nos pontos de estrangulamento (conversão de águas);
  • alto grau de impermeabilização do solo pela malha asfáltica e de concreto;
  • ocupação desordenada e crescimento populacional de migrantes;
  • alto grau de pobreza da periferia da cidade, o que impossibilita as pessoas terem recursos para destinar o lixo, por exemplo;
  • falta de consciência e educação ambiental dos administradores e da população em geral;
  • omissão do Poder Público na gestão urbana e falta de saneamento básico adequado.
As enchentes, na maioria das vezes, ocorrem como conseqüência da ação humana.
Das dificuldades que uma enchente provoca podemos destacar:
  • Perda de vidas;
  • Abandono dos lares inundados;
  • Perda de materiais, objetos e móveis encharcados ou arrastados pelas águas;
  • Contaminação da água por produtos tóxicos;
  • Contaminação da água com agentes patológicos que provocam doenças como amebíase, cólera, febre amarela, hepatite A, malária, poliomielite, salmonelose, teníase, leptospirose, entre outras;
  • Contaminação de alimentos pelos mesmos agentes patológicos acima citados;
  • Interrupção da atividade econômica das áreas inundadas.
As áreas urbanas são mais propícias a enchentes porque o solo dessas regiões são impedidos pelo asfalto e outros tipos de pavimentações de absorverem a água e também pela falta de vegetação ou pouca vegetação que contribui com a absorção da água.

Podemos destacar as duas principais formas de inundações:
  • Inundações de áreas ribeirinhas - os rios geralmente possuem dois leitos, o leito menor onde a água escoa na maioria do tempo e o leito maior, que é inundado em média a cada 2 anos. O impacto devido à inundação ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ficando sujeita às enchentes;
  • Inundações devido à urbanização - as enchentes aumentam a sua freqüência e magnitude devido à ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos de escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e assoreamentos. Ocorrem, principalmente, pelo processo natural no qual o rio ocupa o seu leito maior, de acordo com os eventos chuvosos extremos, em média com tempo de retorno superior a dois anos (ultimamente este tempo tem diminuído). Normalmente ocorre em grandes bacias (> 500 km2), sendo decorrência de processo natural do ciclo hidrológico. Os impactos sobre a população são causados, principalmente, pela ocupação inadequada do espaço urbano. Essas condições ocorrem, em geral, devido às seguintes ações: como, a existência de loteamentos em áreas de risco de inundação; invasão de áreas ribeirinhas principalmente pela população de baixa renda; ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com freqüência menor, mas que quando o são, sofrem prejuízos significativos









Para impedir ou diminuir os efeitos das enchentes e que inúmeras famílias percam seus patrimônios, pode-se construir barragens e reservatórios em áreas de maior risco, bueiros, diques e piscinões espalhados pela cidade com sua abertura protegida para impedir a entrada de resíduos sólidos, além de se promover a conscientização da população para que não deposite lixo nas vias públicas e leitos de rios, lagos e represas. Outras ações também são importantes para se minimizar os efeitos das enchentes, entre elas a regulamentação e fiscalização por meio do poder público do uso do solo, limitando a ocupação de áreas inundáveis a usos que não impeçam o armazenamento natural da água pelo solo e que sofram pequenos danos em caso de inundação. Esse zoneamento pode ser utilizado para promover usos produtivos e menos sujeitos a danos, permitindo a manutenção de áreas de uso social, como áreas livres no centro das cidades, reflorestamento, e certos tipos de uso recreacional.

Resumindo, para minimizar o problema:
  • manutenção das áreas verdes existentes e preservação das áreas de preservação permanente;
  • criação de novas áreas verdes para aumentar a permeabilização;
  • construir represas, diques e piscinões, substituindo uma das funções das antigas várzeas, que é aliviar o quadro de inundações nos picos de cheia. Essas estruturas captam a água que ficaria empoçada na cidade, despejando-a pouco a pouco nos rios;
  • assistir a grande massa de pobres da periferia, melhorando o saneamento básico e garantindo a coleta de resíduos sólidos;
  • implementar programa de limpeza intensiva de bueiros e galerias entupidos com lixo jogado pela própria população;
  • estimular a educação ambiental nos órgãos públicos, entidades particulares e escolas;
  • estreitar o relacionamento entre o Poder Público e as associações de bairro;
  • levantar e definir os locais problemáticos em termos de enchentes e criar mecanismos técnicos mais eficazes para a vazão da água;
  • elaborar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e o Plano Diretor de Drenagem Urbana, estabelecendo os índices de ocupação do solo e os parâmetros para a macrodrenagem urbana;
  • elaborar e implementar plano de contingência e programa de combate a inundações;
  • impedir o acesso de carros e pessoas nos locais críticos nos momentos de grandes precipitações pluviométricas;
  • manter o Poder Público em sintonia com o serviço de meteorologia.
Fonte: vivaterra.org.br

A modernização conservadora

A modernização conservadora

Os críticos do governo Lula reiteram, sem pestanejar, que Lula não teria rompido com a modernização conservadora. Reconhecem, porém, que houve algum tipo de ruptura ao optar por um modelo de desenvolvimentismo que privilegia o capital nacional. Daí a tese deles de que Lula estaria reorganizando o capitalismo brasileiro, mesmo não sendo avesso ao capital transnacional.
Alguns acreditam que, sob o governo Lula, o capitalismo brasileiro se tornou um global player, levando o país a um desenvolvimento que vai reiterar as mais doces expectativas acalentadas pela esquerda e pelos progressistas nos anos 1950 e 1960. O problema residiria na verticalização e centralização do Estado, capaz de esvaziar o debate público, a única forma de impedir que os mercados interno e externo se transformem no monopólio de um grupelho.
Reclamam, então, que Lula não atacou nem feriu de morte a hegemonia dos poderosos do agronegócio, das finanças e da grande indústria, permitindo que eles, ao se aninharem no interior do Estado, possam se apropriar das riquezas que serão geradas pelo desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Postulam então que esse capitalismo seja organizado numa social-democracia avançada, com um Estado forte, mas sob controle da sociedade.
Com isso, a montanha crítica consegue, no máximo, parir um rato. Não discute, sequer, se nas presentes condições brasileiras, seria possível ter uma modernização não-conservadora. Isto é, uma modernização impulsionada por um Estado que ousasse combinar a construção de instrumentos de propriedade social (estatais e públicas) com a democratização da propriedade capitalista, evitando a formação de monopólios e oligopólios e utilizando mecanismos diferenciados para desenvolver as forças produtivas em combinação com uma constante e progressiva redistribuição de renda.
A história demonstrou que os Estados de bem-estar da social-democracia só conseguiram combinar a construção de instrumentos de propriedade social com a democratização da propriedade capitalista, assim como manter uma razoável redistribuição de renda, em condições históricas muito especiais. Isto é, enquanto podiam dominar mecanismos econômicos e políticos que lhes permitia transferir riquezas dos países dependentes da periferia, e enquanto estavam sob a pressão comparativa dos países socialistas europeus.
Quando essas condições se reduziram ou deixaram de existir, e o capitalismo se reestruturou em corporações transnacionais, a social-democracia teve que se transformar em social-liberalismo. Tornou-se incapaz de gerir um capitalismo que, ao mesmo tempo em que se desenvolvia, permitia que se redistribuísse a riqueza gerada de uma forma menos desigual. Assim, as sociais-democracias européia e brasileira não mudaram sua natureza por maldade, mas pela imperiosidade das novas condições do capital.
Por outro lado, o socialismo voltou à pauta. Porém, mais pelo fracasso do neoliberalismo e pelas contradições do capital do que pela ação dos socialistas. Portanto, deduzir que o retorno da problemática socialista à pauta social represente a criação imediata das condições para a transformação radical da sociedade brasileira é não só um sonho, mas um desejo voluntarista de primeira ordem.
Além disso, não devemos esquecer que, em nosso país, o capitalismo se desenvolveu tendo por base grandes empresas estatais e privadas, estas últimas também com o apoio do Estado. Ao contrário de outros países, em que o capital criou uma massa considerável de pequenos capitalistas, com força social e política, aqui isso não ocorreu.
Na verdade, a democratização da propriedade capitalista sempre foi vista como uma ideologia comunista, por paradoxal que isso possa parecer. A reforma agrária, de conteúdo essencialmente burguês, sempre foi tratada como uma reivindicação comunista.
As mobilizações sociais ocorridas no Brasil nos últimos 60 anos foram incapazes de impor a democratização da propriedade da terra e a democratização da propriedade capitalista. Nas zonas rurais, hoje o Brasil corre o risco de ver os remanescentes do latifúndio improdutivo serem transformados em grandes explorações agrícolas capitalistas, ou o chamado agronegócio, ao invés de ver ampliadas as explorações camponesas.
A tendência é de que as explorações camponesas sejam engolidas pela rápida expansão do agronegócio, transformando os lavradores autônomos em proletários rurais, operários industriais ou lumpensinato. Em outras palavras, as pequenas-burguesias industrial e agrícola no Brasil continuam sem ter força social suficiente para impor seus interesses próprios.
Nessas condições, a proposta de romper com a modernização conservadora pode ser muito bonita e teoricamente ideal, mas sua execução prática demandaria não apenas um governo como o de Lula, mas também um Estado suficientemente forte para realizar uma modernização democrática e popular. Nesse sentido, um Estado social-democrata, pela mudança da natureza da social-democracia, romperia com a modernização conservadora por seu lado pior. Isto é, liquidando a modernização, a exemplo do que fez FHC, mesmo que seu candidato fale em Estado ativo.
Nas condições presentes, para não paralisar a modernização, a pretexto de que ela é conservadora, talvez a política mais adequada resida em introduzir modificações que permitam reforçar a participação do capital estatal no pacto com os capitais privados nacionais e estrangeiros, ampliar significativamente a presença do pequeno capitalismo (ou capitalismo democrático) na sociedade e criar condições favoráveis para a participação democrática e popular nas decisões do Estado.
Ou seja, no contexto atual, o que pode realmente introduzir mudanças na modernização conservadora é o desenvolvimento da musculatura das empresas estatais, da força econômica da pequena-burguesia urbana na indústria e nos serviços e da pequena-burguesia rural na agricultura, e da força social dos trabalhadores assalariados urbanos e rurais na sociedade e na participação política.

Fonte: Correio da Cidadania.
Autor: Wladimir Pomar.

Asiáticos acirram disputa por trem-bala

Asiáticos acirram disputa por trem-bala

Grupos do Japão e da Coreia do Sul se unem a empreiteiras nacionais para o leilão; chineses podem entrar sozinhos na concorrência.
Andrade Gutierrez deve se aliar a empresas japonesas como Mitsui, Toshiba e Mitsubishi, e grupo Bertin, às coreanas Samsung e Hyundai.
Às vésperas do lançamento do edital de licitação do trem-bala Rio-SP, os possíveis interessados na obra -a maior do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), orçada em R$ 34 bilhões- já estão se organizando para a disputa.
No radar das autoridades do governo encarregadas do empreendimento já apareceram duas combinações: a empreiteira Andrade Gutierrez com os grupos japoneses (Mitsui, Toshiba, Hitachi, Mitsubishi e Japan Railway) e o Grupo Bertin com os sul-coreanos (Samsung e Hyundai).
A posição dos chineses intriga as autoridades brasileiras. A princípio, a impressão é que a associação seria com a Odebrecht. Agora não há mais tanta certeza, e a avaliação é que os chineses poderão entrar sozinhos, para negociar a associação com algum grupo nacional já com a obra assegurada.
As últimas semanas foram de intensa negociação dos empresários com o governo para a modificação de aspectos do edital considerados inadequados. Em muitos pontos, o governo cedeu. Agora, a expectativa é em relação à aprovação dos estudos pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e de eventuais mudanças que o órgão venha a sugerir.

Regras

A construção do trem-bala exigirá pesado financiamento público. Para minimizar esse aspecto, uma das regras do edital prevê que o vencedor seja a empresa ou o consórcio que pedir menos dinheiro ao Estado. Esse critério terá peso de 70% na classificação.
O valor da tarifa também será levado em consideração, com peso de 30%. Quem pedir a menor tarifa leva vantagem, respeitado o teto estabelecido pelo governo: R$ 0,50 por quilômetro, ou R$ 206,15 entre os centros das duas cidades (da estação Barão de Mauá, no Rio, até o Campo de Marte, em SP).
O governo brasileiro participará do consórcio vencedor por meio de uma empresa pública, que aportará até R$ 3,4 bilhões. Haverá financiamento direto da União, de até R$ 20,8 bilhões, com prazo de vencimento de 30 anos. O Estado terá uma "golden share" (ação especial) na empresa vencedora, o que dará ao governo poder de veto para seis questões: 1) mudança de denominação social; 2) mudança de sede; 3) mudança de objeto da empresa; 4) liquidação, fusão ou incorporação; 5) mudança de dispositivos estatutários; e 6) mudança na própria "golden share".
A empresa pública terá como objetivo absorver a tecnologia de transporte ferroviário de passageiros em alta velocidade. A tecnologia deve ser usada nos próximos projetos: ligação Viracopos-Belo Horizonte e São Paulo-Curitiba.

Transnordestina

Depois de muitas dificuldades para tocar o projeto, o governo comemorou o acerto entre o grupo Odebrecht e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) para a conclusão da ferrovia Transnordestina. Segundo a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá comparecer à cidade de Salgueiro (PE) e visitar fábricas de dormentes e produção de brita. Inicialmente prevista para o final de 2010, a obra deverá ficar pronta em abril de 2012.
O projeto, de R$ 5,4 bilhões, prevê a ligação da cidade de Eliseu Resende (PI) aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). São 1.728 km de novos trilhos e 550 km de remodelação. A cidade de Salgueiro fica a meio caminho entre a origem da ferrovia, no sul do Piauí, e o porto de Suape.

Aeroporto do Galeão deve ficar fora do traçado

O aeroporto do Galeão (RJ) deverá deixar de ser uma estação obrigatória do trem-bala. A sugestão foi feita por vários possíveis investidores ao governo, que não vê problema em retirá-la, desde que o futuro concessionário dê uma solução alternativa para ligar o aeroporto internacional do Rio de Janeiro a uma das estações do trem-bala. O argumento dos investidores foi o de que a inclusão do Galeão no traçado iria encarecer o projeto em aproximadamente R$ 2 bilhões.
Com a saída do Galeão, as estações obrigatórias serão Barão de Mauá (RJ), Aparecida (SP), Campo de Marte (SP), Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Campinas (SP). Além disso, o empreendedor terá que construir mais duas estações, à sua escolha, no Vale do Paraíba.
Essa não é a primeira concessão que o governo faz para adequar o projeto às necessidades dos interessados privados e, assim, tentar aumentar a competição no leilão. Uma delas foi liberar a tarifa, deixando sob controle da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) apenas o valor da passagem entre o centro do Rio e o de São Paulo, na classe econômica. Todos os demais trechos e classes terão preços livres.
Outra mudança feita pelo governo foi adotar uma metodologia para dar mais garantia aos investidores quanto a uma possível demanda inferior à projetada. A demanda é o fator preponderante para determinar o fluxo de caixa do empreendimento, o que, por sua vez, determina as condições de pagamento dos empréstimos feitos.
Nesse caso, o temor é que uma demanda mais baixa inviabilize o pagamento do financiamento. Para contornar o problema, o governo vai desenvolver uma metodologia de financiamento que permita que os juros do empréstimo e o prazo de pagamento sejam alterados, caso haja menos demanda.

Fonte: Folha de São Paulo - 19/03/2010

Estados Unidos - Israel: racha exposto

Estados Unidos - Israel: racha exposto

O mau momento das relações entre Estados Unidos e Israel não dá sinal de ceder.

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou, no dia 16/03, que entre os dois países existe um “vínculo estreito e inalterável”. Porém, isso não impediu o cancelamento de uma viagem ao Oriente Médio do enviado especial para a paz na região, senador George Mitchell. Por outro lado, um alto chefe militar advertiu que a ausência de progressos nas conversações entre palestinos e israelenses e a percepção de que Washington favorece Israel no conflito prejudicam interesses vitais dos Estados Unidos e de seus aliados no mundo árabe.
“As tensões entre israelenses e palestinos costumam derivar em violência e choques armados”, disse o general David Petraeus, chefe do comando central dos Estados Unidos junto ao Comitê de Serviços Armados do Senado. “Este conflito fomenta o sentimento antinorte-americano pela percepção de nossa preferência por Israel”, acrescentou. Por seu lado, os israelenses e os defensores de sua causa intensificaram a campanha para responsabilizar o governo de Barack Obama pela crise, quando faltam dias para a visita a Washington do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Junto com Clinton, Netanyahu será um dos oradores principais da conferência anual do American Israel Public Affairs Committee, a organização mais poderosa do lobby judeu neste país. Um comunicado divulgado pela Conferência de Presidentes de Grandes Organizações Judias disse que “os duros comentários feitos por membros do governo (desde a volta do vice-presidente Joe Biden de sua viagem a Israel, na semana passada) apenas criam novas tensões”. O texto se referia a declarações feitas no final de semana por Clinton e pelo principal assessor de Obama na matéria, David Axelrod, entre outros.
Para a secretária de Estado e Axelrod, o anúncio israelense de que seriam construídas 1.600 novas moradias para judeus em Jerusalém oriental – território palestino ocupado – justo quando Biden visitava esse país, constitui um “insulto” e uma “afronta” que prejudica os interesses dos Estados Unidos na região. Em uma breve aparição aos jornalistas no dia 16, Hillary minimizou a importância dos contratempos, qualificados como a pior crise bilateral desde 1975 pelo embaixador israelense, Michael Oren.
“Isso eu não assino”, disse Hillary. Washington mantém seu “absoluto compromisso com a segurança de Israel”, mas, ao mesmo tempo, “faz intensas consultas com os israelenses sobre os passos que consideramos necessários para demonstrar o compromisso com o processo de paz", acrescentou. Porém, a suspensão da viagem de Mitchell, que deveria abrir esta semana as “conversações de aproximação” entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel, e a fala de Hillary sugerem um cenário diferente.
Parece que Washington ainda não recebeu uma “resposta formal” de Israel para as demandas detalhadas pela secretária de Estado no dia 12, em conversa telefônica de 45 minutos com Netanyahu. Segundo a imprensa israelense, essas exigências incluem suspender a expansão dos assentamentos judeus anunciada na semana passada, libertação de um grande número de presos palestinos e aceitação de que as conversações de paz incluam o status final da Palestina, a sorte dos refugiados, de Jerusalém oriental e das fronteiras entre os dois Estados.
Nesta semana, Hillary se reunirá em Moscou com os demais representantes do Quarteto – União Europeia, Rússia e Nações Unidas – que deveriam apoiar a posição de Washington e fazer mais pressão sobre Netanyahu antes que este chegue aos Estados Unidos. Além do desgosto do governo de Obama, o testemunho de Petraeus indica que os militares veem no conflito do Oriente Médio um grande obstáculo para os interesses norte-americanos em uma região mais ampla, que inclui o Irã, um vínculo rechaçado por Israel e seus amigos norte-americanos.
“A raiva árabe pelo conflito palestino limita a potência e a profundidade de nossa aliança com governos e povos da área e debilita a legitimidade dos regimes moderados do mundo árabe”, disse o general ao comitê do Senado. A rede extremista “Al Qaeda e outros grupos exploram essa raiva e conseguem apoio. O conflito também dá ao Irã peso no mundo árabe por meio de seus aliados, a milícia libanesa Hezbola e do Hamas”, o palestino Movimento de Resistência Islâmica, acrescentou.
Na opinião do general, “um esforço crível” dos Estados Unidos para dar a governos e povos da região um caminho para uma solução ampla das disputas, limitaria a política de “resistência militante” que é tão bem explorada pelo Irã e por “grupos insurgentes”. Para Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense e membro da New America Foundation, “Petraeus expôs em termos inequívocos até que ponto são importantes os laços entre a segurança dos Estados Unidos e um processo de paz com credibilidade, e o fez articulando não apenas a existência desses vínculos, mas o quanto são centrais para os militares”.
O que o general disse, “e que deveria soar como um alarme para Israel, é que a não resolução do conflito e a ocupação ganharam um peso insuportável na relação com os Estados Unidos e que a melhor maneira de enfrentá-lo seria, obviamente, resolvendo esse conflito”, acrescentou. Segundo um artigo publicado no final de semana no site foreignpolicy.com, a dureza de Washington obedece, em parte, a frustração de vários chefes militares diante da perda de credibilidade derivada da impotência norte-americana diante de Israel, sobretudo na questão dos assentamentos.

Fonte:  Blog de Jim Lobe sobre a política externa dos Estados Unidos: www.ips.org/blog/jimlobe

Cidades brasileiras integram lista das mais desiguais

Cidades brasileiras integram lista das mais desiguais

Cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo. Segundo relatório apresentado, na abertura do 5º Forum Urbano Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU), no Rio, revela que Goiânia (10ª), Belo Horizonte (13ª), Fortaleza (13ª), Brasília (16ª) e Curitiba (17ª) são as que apresentam as maiores diferenças de renda entre ricos e pobres no País. O documento "O Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido" também informa que o Brasil é o país com a maior distância social na América Latina.
O Rio de Janeiro, na 28ª posição, e São Paulo, na 39ª, também são cidades consideradas com alto índice de desigualdade, de acordo com o relatório da ONU. Nove municípios na África do Sul lideram o ranking. As capitais da Nigéria, Etiópia, Colômbia, Quênia e Lesoto também estão entre as mais desiguais. No total, 138 cidades de 63 países em desenvolvimento foram analisadas. O relatório baseia suas conclusões no coeficiente Gini - cujos indicadores medem a concentração de renda de um país.
Na avaliação do coordenador do relatório e diretor do Centro de Estudos e Monitoramentos das Cidades do Programa da ONU para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), o mexicano Eduardo Lopez Moreno, existe vínculo direto entre desigualdade e criminalidade. Mais do que custos sociais, o abismo entre ricos e pobres também provoca prejuízos econômicos.
"Estatisticamente falando, existe sim um vínculo. É muito possível que a cidade mais desigual vai gerar muito mais fácil distúrbios e problemas sociais. As autoridades desses países vão deslocar recursos que deveriam ir para investimentos para conter esses movimentos sociais. O custo social acaba se traduzindo em custo econômico", afirmou Moreno.

Favelas

Em termos de favelização, o estudo da ONU apresenta resultados paradoxais para o Brasil. Apesar de ter sido o país que apresentou o maior número absoluto de pessoas que deixaram de viver em condições de favelização na América Latina - 10,4 milhões -, a pesquisa mostrou que o desempenho relativo ficou abaixo dos vizinhos. Enquanto as condições de moradia melhoraram para 16% da população brasileira, este índice ficou em 40,7% na Argentina, 39,7% na Colômbia, 27,6% no México e 21,9% no Peru.
As estimativas apresentadas na pesquisa são de que mais de 227 milhões de pessoas no mundo todo deixaram de viver em regiões faveladas desde o ano 2000. Isso representa uma evolução 2,2 vezes maior do que o estimado nas Metas de Desenvolvimento do Milênio, que haviam estabelecido objetivo de melhorar as condições de habitação de 100 milhões de pessoas até 2020.
"A situação melhorou em dez anos, mas infelizmente no mesmo período o aumento líquido dos pobres urbanos é de 55 milhões", disse Anna Tibaijuka, diretora-executiva do ONU-Habitat.
De acordo com a metodologia da pesquisa, deixar de viver em condição de favelização não significa necessariamente mudança de residência ou remoção de comunidade. Acesso a saneamento básico e água potável, o material utilizado nas moradias e a densidade das residências são os fatores para avaliar se uma região é ou não favelada.

Fonte: estadao.com.br

18 março, 2010

Terremotos: entenda porque os abalos não podem ser previstos

Terremotos: entenda porque os abalos não podem ser previstos

Devido ao recente terremoto que ocorreu no Haiti e também a alguns abalos de pequena intensidade registrados no Nordeste brasileiro, as pessoas passaram a se perguntar por que esses sismos não foram previstos com alguns dias de antecedência, permitindo a possível evacuação das áreas de risco.

Sem dúvida, o alerta antecipado sobre um possível terremoto de grande magnitude evitaria, senão o prejuízo material, a perda de um grande número de vidas, que poderiam deixar calmamente suas residências e procurar um local aberto onde pudessem aguardar até o perigo passar. No entanto, esse tipo de alerta ainda é um sonho entre os sismologistas, profissionais que estudam os movimentos da Terra.

Placas tectônicas

Com exceção dos abalos que ocorrem devido ao acomodamento do solo, como os registrados no Brasil, a maior parte dos terremotos mundiais ocorre na junção das placas tectônicas, gigantescos retalhos sobre os quais os continentes, mares e cordilheiras estão assentados e que estão em constante movimento de flutuação sobre o magma incandescente abaixo delas.
À medida que se movimentam, as placas tectônicas produzem diversos tipos de esbarrões e escorregões entre si e são esses movimentos os responsáveis pela formação das cordilheiras, fossas oceânicas, atividade vulcânica, cordilheiras meso-oceânicas, terremotos e tsunamis.
Ao todo existem sete placas principais e um vasto número de placas secundárias, cada uma delas com movimento e dinâmicas próprias, com milhares de pontos que se tocam, deslizam e se afastam de maneira completamente caótica, sem que se saiba com clareza onde a tensão provocada pelo movimento está se acumulando ou diminuindo. São nessas regiões que ocorrem os terremotos, a liberação abrupta da energia acumulada ao longo do tempo.

Dificuldades

O maior objetivo dos sismologistas é tentar prever o ponto exato onde haverá a liberação de energia, mas devido à enorme quantidade de parâmetros envolvidos e a inexistência padrões e sinais claros sobre a atividade sísmica, essa previsão ainda não é possível e somente em casos extremamente raros as tentativas de previsão podem dar algum resultado, mesmo assim questionadas por muitos institutos.

Haiti

No caso do Haiti, por exemplo, os cientistas já haviam alertado que a região, situada exatamente na junção entre as placas tectônicas norte-americana e caribenha, estava acumulando grande tensão havia centenas de anos e que a energia poderia ser liberada a qualquer momento na forma de um poderoso terremoto. Essa constatação foi possível devido às medições nos movimentos das placas e potencial de energia acumulada, mas estava longe de se tornar uma previsão uma vez que era impossível dizer quando e em que ponto da junção ocorreria a ruptura e qualquer tentativa de prognóstico seria apenas um palpite.

Califórnia

O mesmo ocorre com a região da costa oeste da Califórnia, onde a placa do pacífico desliza contra a placa norte-americana, a chamada falha de San Andreas. Segundo os pesquisadores, em algum ponto dessa interface poderá ocorrer um sismo de grande magnitude a qualquer momento, mas não se sabe exatamente onde nem quando, uma vez que a junção tem aproximadamente 3 mil quilômetros de extensão e milhares de pontos de estresse mecânico.
A grande quantidade de cidades que se encontram sobre a falha, entre elas São Francisco e Los Angeles, fizeram com que os engenheiros desenvolvessem novas tecnologias de construção capazes de compensar os efeitos dos tremores, mas até hoje não foram testadas sob um intenso abalo de 7 graus como o que atingiu o Haiti.

Sistemas de Alerta

Diante à impossibilidade de prever quando e onde os terremotos acontecerão, mas conhecendo as características de propagação das ondas sísmicas, os cientistas partiram para o desenvolvimento de sistemas de alertas que possam avisar com antecedência a população das cidades. No Japão, por exemplo, os pesquisadores criaram um sistema de aviso de tremores capaz de avisar com 10 segundos de antecedência a chegadas das ondas. Apesar de parecer pouco tempo, 10 segundos de antecedência permitem que as populações deixem suas casas ou procurem abrigo em local seguro, onde possam se proteger ante a chegada do tremor inevitável.

Fonte: apolo11.com