08 março, 2010

Terremotos no Mundo

Terremotos no Mundo


O ano de 2010 é o ano da fúria! Em apenas dois meses o planeta foi castigado por uma sucessão de catástrofes pavorosas: terremotos, ondas gigantes e enchentes. Existe alguma ligação entre tantos desastres?
Terremotos, enchentes, icebergs à deriva, nevascas, tornados, ondas gigantes. Afinal, o que está acontecendo com o nosso planeta?

Para não fazer confusão: o Brasil não vai ser devastado por um terremoto como o do Haiti. E os tremores não têm nada a ver com o clima ou com o aquecimento global.
Para os especialistas o número de terremotos não tem aumentado. São 40 tremores por dia na Terra. A Terra treme de 12 a 14 mil vezes por ano. Mais de um tremor por hora. É uma média constante nas últimas décadas. Portanto, não há um aumento significativo no número de tremores.
“Os terremotos são causados por forças que vêm do interior da terra. São consequência do calor que vem de dentro da terra, e esse calor sobe até a superfície e faz a superfície da terra se movimentar”, explica o geofísico Marcelo Assumpção, do IAG da Universidade de São Paulo.
O que aumentou foi a rede de monitoramento. Em 1930, existiam 350 sismógrafos, aparelhos capazes de detectar os tremores. Hoje, são mais de quatro mil espalhados pelo planeta.
A maioria dos tremores é imperceptível para nós ou acontece longe de áreas habitadas. Mesmo assim, hoje há muito mais informação e imagens.
E os terremotos assustam, porque são, em disparado, a catástrofe que mais mata. Na última década, o número de vítimas passou de 400 mil. “Cada vez que ocorre um terremoto, o número de vítimas em potencial é maior, porque a população está aumentando”, aponta Marcelo Assumpção. “Então, tem cada vez mais gente ocupando área de risco”, afirma o geólogo Renato Eugênio de Lima, da UFPR.
E as recentes inundações em São Paulo, no Peru e na Ilha da Madeira? São culpa do aquecimento global? Alguns cientistas acreditam que exista alguma relação, mas ainda não dá para garantir.
“Estatisticamente, não é possível afirmar de maneira categórica que esses eventos são causados pelas mudanças climáticas globais”, afirma o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Pode ser apenas uma variação natural do clima. “Uns anos, chove mais. Outros anos, chove menos. Isso faz parte do sistema caótico que governa o clima no nosso planeta. É que as pessoas têm memória curta”, justifica o físico.
Mas, ao contrário dos terremotos, as catástrofes do clima podem, sim, no futuro, ficar mais frequentes por causa do aquecimento global.
“Acontece que o homem está dando a sua mãozinha, por exemplo, quando troca uma floresta de Mata Atlântica por plantações, quando urbaniza uma área enorme como São Paulo. Assim, você intensifica essas transformações”, explica o físico Paulo Artaxo, da USP.
Será, então, que o planeta Terra tornou-se um lugar mais perigoso para se viver? “A lenda 2012 é só nos filmes”, diz Marcelo Assumpção.
Mas uma coisa é certa: tremores como o do Chile ou o de Taiwan vão continuar tão perigosos quanto imprevisíveis. “Não há perspectiva de que os terremotos possam ser previstos nos próximos dez anos, por exemplo”, aponta Marcelo Assumpção.
Os terremotos começaram muito antes do surgimento do homem e vão durar mais do que a nossa espécie. “No dia em que a terra se acalmar totalmente, acho que a humanidade já deve estar morando em outros planetas, porque a Terra vai estar inabitável”, declara o geofísico da USP.

Como Ocorrem os Terremotos

Os terremotos se produzem pelo movimento das placas tectônicas que compõem a crosta terrestre. Cerca de 90% dos tremores ocorrem ao longo das linhas de colisão entre as placas, que passam por vários países. Veja como acontecem os terremotos:

Os Últimos Terremotos

Haiti

Um grande terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o Haiti, o país mais pobre da América, por volta das 19h50 do dia 12/01/10. A capital, Porto Príncipe, teve vários prédios destruídos. O número de mortes gira em torno de 300 mil, além de milhares de feridos. Cadáveres foram enterrados em valas comuns ou pelas próprias famílias.


Chile

Depois do Haiti, foi a vez do Chile. Um terremoto brutal de 8,8 na escala Richter, seguido das ondas de um tsunami, em 27/02/10, matou centenas de pessoas, além de destruir parte do patrimônio da região central do país. A maior parte dos danos foi na cidade de Concepción, mas outras regiões foram afetadas, inclusive Santiago.
E os tremores continuaram, com uma série de outros abalos, alguns acima de 6 graus de intensidade, atingiu o território chileno, aumentando o caos e a destruição.

Taiwan

Um forte terremoto de magnitude 6,4 atingiu a região de Taiwan em 03/03/10. O tremor foi sentido na capital Taipé, onde edifícios tremeram por vários minutos. Os serviços ferroviários de alta velocidade entre Taipé e outras cidades do sul foram suspensos. Ainda não há informações sobre vítimas ou danos. Taiwan é vítima frequente de terremotos, pois fica no limite entre duas placas tectônicas. Em setembro de 1999, um terremoto de magnitude 7,6 matou cerca de 2.400 pessoas na ilha.

Turquia

Um terremoto de 6,0 graus de magnitude causou a morte de pelo menos 57 pessoas no leste da Turquia e deixou quase 100 feridos, 08/03/10. A Turquia está localizada em uma zona de instabilidade geológica. O último grande terremoto a atingir o país ocorreu em 1999, ao leste de Istambul, e causou a morte de mais de 17 mil pessoas.
Na época, especialistas apontaram a má qualidade das construções como principal razão para o alto número de mortes.

Tremores no Brasil

A ideia propagada por muito tempo de um Brasil essencialmente estável, livre da ocorrência de terremotos, é errônea. A sismicidade brasileira é modesta se comparada à da região andina, mas é significativa porque aqui já ocorreram vários tremores com magnitude acima de 5 graus na escala Richter, indicando que o risco sísmico em nosso país não pode ser simplesmente ignorado.
Dezenas de relatos sobre abalos de terra sentidos em diferentes áreas do país, e eventos como o de Pacajus, no Ceará, em 1980 (magnitude 5,2) e a atividade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, em 1986 (5,1) mostram que os sismos, também no Brasil, podem trazer danos materiais, ocasionar transtornos à população e chegar, em alguns casos, a levar pânico às pessoas.
As regiões onde acontecem mais terremotos correspondem às bordas ou limites das placas e, no interior delas, a sismicidade é relativamente mais branda, porque o acúmulo de esforços que produz o terremoto ocorre mais lentamente. Nesse contexto, o Brasil teve a "sorte" de situar-se praticamente no interior da Placa Sul-americana, distante de suas bordas leste e oeste, respectivamente representadas pela Cadeia Meso-atlântica e pela zona de subducção [convergência] da faixa andina. Os sismos brasileiros ocorrem a baixa produtividade (cerca de 30km) e, por isso, são sentidos até poucos quilômetros do epicentro. Este é, quase sempre, o padrão de sismicidade esperado para regiões do interior de placas. No entanto, a história tem mostrado que, mesmo nestas "regiões tranqüilas", podem acontecer grandes terremotos. O leste dos EUA, com um tipo de sismicidade equivalente à do Brasil, foi surpreendido, no início do século XIX, pela ocorrência de superterremotos com magnitudes em torno de 8,0.


Terremotos de mais de 5 graus na escala Richter atingem Brasil a cada 5 anos

Terremotos de mais de 5 graus na escala Richter acontecem no Brasil, em média, a cada cinco anos, de acordo com o IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP. Na noite 22/05/08 um terremoto de 5,2 graus na escala Richter assustou a população de cidades de ao menos quatro Estados.
Em 2007, um tremor chegou a atingir 6,1 graus na escala Richter (segunda maior magnitude registrada no Brasil) no Acre. Mas, como ocorreu a cerca de 500 km de profundidade, quem vive na área envolta do epicentro do tremor nem sentiu os abalos. O maior terremoto já ocorrido no Brasil foi em 1955, na cidade de Porto dos Gaúchos, em Mato Grosso, que atingiu 6,2 graus na escala Richter.
Na costa brasileira, terremotos de mais de 5 graus a cada 15 ou 20 anos de acordo com o Laboratório Sismológico. O último terremoto desta magnitude na costa do Brasil ocorreu há 16 anos, próximo ao Rio Grande do Sul. Outros ocorreram em 1939 em Santa Catarina, em 1955 no Espírito Santo e em 1972 no Rio.
A região onde está localizado o epicentro do terremoto do último dia 22 de maio é um foco comum de tremores, de acordo com o Laboratório Sismológico. O tremor ocorreu a 215 km de São Vicente, local cortado por uma falha geológica. Os tremores na região ocorrem devido à acomodação dessas falhas.
A tensão vai se acumulando conforme os lados opostos da falha vão atritando. Essa tensão é liberada em forma de tremor. A diferença desse tremor e os que ocorrem comumente é de que ele teve uma magnitude pouco comum para o território nacional, de 5,2 gruas na escala Richter.
Os terremotos brasileiros são de baixa magnitude devido à posição do país em relação às placas tectônicas (no centro da placa sul-americana). Os tremores acabam sendo mais fracos, mas, por outro lado, são mais superficiais.
A baixa profundidade do epicentro pode agravar o efeito dos tremores. Quando a profundidade é baixa a movimentação das placas chega com mais força à superfície podendo causar mais estragos.
Esse é um dos fatores que explica, por exemplo, os danos causados pelo terremoto que atingiu Itacarambi (norte de Minas) em dezembro do ano passado. O tremor, de 4,9 graus na escala Richter, derrubou casas e causou a morte de uma menina de 5 anos, a primeira e única ocorrência do tipo no Brasil. Em outros casos o abalo tem uma magnitude mais alta, mas é menos sentido devido à profundidade do epicentro.

Rede sismográfica nacional

O Governo federal começou a discutir com especialistas a criação de uma rede sismográfica nacional. Ela permitirá que qualquer tremor a partir de 3 graus na escala Richter seja detectado imediatamente.
Os sensores seriam colocados em pontos estratégicos, em locais onde já ocorreram tremores de terra. Com a rede, o Brasil pode passar a ter informações uniformizadas sobre a movimentação geológica. O sismograma é uma radiografia do movimento do chão. É essa radiografia que o sismógrafo usa para entender toda a dinâmica associada ao interior da terra.
A rede sismográfica tem como objetivo detectar tremores de menor intensidade. Para isso, são necessárias novas 40 estações distribuídas de forma uniforme no Brasil.
A transmissão via satélite é a forma mais rápida para a informação chegar aos centros de análises sismológicas. Um sensor enterrado em um poço, geralmente sobre rocha, sente a passagem de onda de energia. Ela é amplificada e enviada por satélite para computadores que fazem a leitura da movimentação sob a terra. A partir daí, programas de computadores se encarregam de localizar o ponto exato em que o terremoto ocorreu. Mas a transmissão em tempo real ainda é rara no Brasil.

Fonte: Tibério Geo.

2 comentários:

  1. Reportagem ótima.
    Importante dizer que todo o folclore em torno de 2012 não passa de filme.
    Estamos vivendo numa cultura que não diferencia mais mito de realidade, ciência de sensacionalismo.
    Depois do terremoto no Chile, os Brasileiros estavam preocupados caso algo semelhante acontecesse aqui, e basta estudar a ciência da coisa para se saber que isso é quase, pra nao falar totalmente, impossível.
    Acho que as pessoas, inclusive os estudantes, precisam de mais informações técnicas e menos sensacionalismo sobre esses assuntos, para que parem de interpretar esses acontecimentos como profecias e sinais apocalipticos do fim dos tempos. As vezes, parece que a mentalidade das pessoas está retornando para a Idade Média.

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  2. Roberta

    Matéria bem interessante, pois de certa forma desmistifica a ideia de que em nosso país não há ocorrência de abalos sísmicos, embora em intensidade menor se comparada com outros países.

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