20 março, 2010

Estados Unidos - Israel: racha exposto

Estados Unidos - Israel: racha exposto

O mau momento das relações entre Estados Unidos e Israel não dá sinal de ceder.

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou, no dia 16/03, que entre os dois países existe um “vínculo estreito e inalterável”. Porém, isso não impediu o cancelamento de uma viagem ao Oriente Médio do enviado especial para a paz na região, senador George Mitchell. Por outro lado, um alto chefe militar advertiu que a ausência de progressos nas conversações entre palestinos e israelenses e a percepção de que Washington favorece Israel no conflito prejudicam interesses vitais dos Estados Unidos e de seus aliados no mundo árabe.
“As tensões entre israelenses e palestinos costumam derivar em violência e choques armados”, disse o general David Petraeus, chefe do comando central dos Estados Unidos junto ao Comitê de Serviços Armados do Senado. “Este conflito fomenta o sentimento antinorte-americano pela percepção de nossa preferência por Israel”, acrescentou. Por seu lado, os israelenses e os defensores de sua causa intensificaram a campanha para responsabilizar o governo de Barack Obama pela crise, quando faltam dias para a visita a Washington do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Junto com Clinton, Netanyahu será um dos oradores principais da conferência anual do American Israel Public Affairs Committee, a organização mais poderosa do lobby judeu neste país. Um comunicado divulgado pela Conferência de Presidentes de Grandes Organizações Judias disse que “os duros comentários feitos por membros do governo (desde a volta do vice-presidente Joe Biden de sua viagem a Israel, na semana passada) apenas criam novas tensões”. O texto se referia a declarações feitas no final de semana por Clinton e pelo principal assessor de Obama na matéria, David Axelrod, entre outros.
Para a secretária de Estado e Axelrod, o anúncio israelense de que seriam construídas 1.600 novas moradias para judeus em Jerusalém oriental – território palestino ocupado – justo quando Biden visitava esse país, constitui um “insulto” e uma “afronta” que prejudica os interesses dos Estados Unidos na região. Em uma breve aparição aos jornalistas no dia 16, Hillary minimizou a importância dos contratempos, qualificados como a pior crise bilateral desde 1975 pelo embaixador israelense, Michael Oren.
“Isso eu não assino”, disse Hillary. Washington mantém seu “absoluto compromisso com a segurança de Israel”, mas, ao mesmo tempo, “faz intensas consultas com os israelenses sobre os passos que consideramos necessários para demonstrar o compromisso com o processo de paz", acrescentou. Porém, a suspensão da viagem de Mitchell, que deveria abrir esta semana as “conversações de aproximação” entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel, e a fala de Hillary sugerem um cenário diferente.
Parece que Washington ainda não recebeu uma “resposta formal” de Israel para as demandas detalhadas pela secretária de Estado no dia 12, em conversa telefônica de 45 minutos com Netanyahu. Segundo a imprensa israelense, essas exigências incluem suspender a expansão dos assentamentos judeus anunciada na semana passada, libertação de um grande número de presos palestinos e aceitação de que as conversações de paz incluam o status final da Palestina, a sorte dos refugiados, de Jerusalém oriental e das fronteiras entre os dois Estados.
Nesta semana, Hillary se reunirá em Moscou com os demais representantes do Quarteto – União Europeia, Rússia e Nações Unidas – que deveriam apoiar a posição de Washington e fazer mais pressão sobre Netanyahu antes que este chegue aos Estados Unidos. Além do desgosto do governo de Obama, o testemunho de Petraeus indica que os militares veem no conflito do Oriente Médio um grande obstáculo para os interesses norte-americanos em uma região mais ampla, que inclui o Irã, um vínculo rechaçado por Israel e seus amigos norte-americanos.
“A raiva árabe pelo conflito palestino limita a potência e a profundidade de nossa aliança com governos e povos da área e debilita a legitimidade dos regimes moderados do mundo árabe”, disse o general ao comitê do Senado. A rede extremista “Al Qaeda e outros grupos exploram essa raiva e conseguem apoio. O conflito também dá ao Irã peso no mundo árabe por meio de seus aliados, a milícia libanesa Hezbola e do Hamas”, o palestino Movimento de Resistência Islâmica, acrescentou.
Na opinião do general, “um esforço crível” dos Estados Unidos para dar a governos e povos da região um caminho para uma solução ampla das disputas, limitaria a política de “resistência militante” que é tão bem explorada pelo Irã e por “grupos insurgentes”. Para Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense e membro da New America Foundation, “Petraeus expôs em termos inequívocos até que ponto são importantes os laços entre a segurança dos Estados Unidos e um processo de paz com credibilidade, e o fez articulando não apenas a existência desses vínculos, mas o quanto são centrais para os militares”.
O que o general disse, “e que deveria soar como um alarme para Israel, é que a não resolução do conflito e a ocupação ganharam um peso insuportável na relação com os Estados Unidos e que a melhor maneira de enfrentá-lo seria, obviamente, resolvendo esse conflito”, acrescentou. Segundo um artigo publicado no final de semana no site foreignpolicy.com, a dureza de Washington obedece, em parte, a frustração de vários chefes militares diante da perda de credibilidade derivada da impotência norte-americana diante de Israel, sobretudo na questão dos assentamentos.

Fonte:  Blog de Jim Lobe sobre a política externa dos Estados Unidos: www.ips.org/blog/jimlobe

Nenhum comentário:

Postar um comentário