24 março, 2010

ESTADOS UNIDOS-CHINA: Guerra comercial quase aberta

ESTADOS UNIDOS-CHINA: Guerra comercial quase aberta

As relações entre os Estados Unidos e a China estão longe de serem cordiais desde o começo deste ano, e as previsões não indicam melhora.

Um projeto de lei apresentado no Senado norte-americano aponta nessa direção, pois ataca práticas comerciais chinesas e inclui artigos que obrigariam o governo de Barack Obama a acusar o gigante asiático de manipulação indevida de sua moeda, abrindo espaço para represálias às importações desse país.
Os senadores que apresentaram o projeto insistem nas práticas comerciais injustas da China, mas também se referem às condições econômicas nacionais que criam incentivos para que os Estados Unidos assumam políticas mais protecionistas. Há tempos Washington se queixa que Pequim mantém deliberadamente baixo o valor de sua moeda frente ao dólar, o que dá grande competitividade aos seus produtos que entram no mercado norte-americano.
“É uma mensagem ao governo chinês: se negar-se a jogar pelas mesmas regras que todo o mundo, vamos obrigá-lo a isso. A manipulação da moeda será inaceitável”, disse o senador Charles E. Schumer, ao apresentar o projeto de lei no dia 16/03/10. “Com desemprego de 10%, simplesmente não podemos aceitar. Não há nenhuma medida melhor para adotarmos a fim de promover a criação de postos de trabalho, sobretudo na área da manufatura, do que combater a manipulação da moeda chinesa”, acrescentou. No dia 15, mais de cem integrantes do Congresso assinaram uma carta dirigida a Obama pedindo que acuse a China de distorcer o valor de sua moeda.
Duas vezes ao ano, o Departamento do Tesouro publica uma lista de países que “manipulam as taxas cambiais entre suas moedas e o dólar norte-americnao para alterar sua balança de pagamentos ou obter vantagem competitiva indevida no comércio internacional”. Mas a China nunca entrou nessa lista. Em uma coluna publicada no dia 14, no The New York Times, o economista Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia, disse que é hora de os Estados Unidos enfrentarem o problema da subvalorização da moeda chinesa, impondo tarifas alfandegárias de 25% às importações procedentes desse país.
Algumas estimativas indicam que o yuan tem desvalorização entre 20% e 40%. As cobranças de ações contra o yuan não são ignoradas por Pequim. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, dedicou duras palavras a Washington em uma entrevista coletiva no dia 14. Nessa ocasião, quando atribuiu o mau momento das relações bilaterais ao fato de o governo de Obama “violar a soberania territorial chinesa” com seus acordos de venda de armas para Taiwan e pela reunião com o Dalai Lama, líder espiritual da conflitiva região do Tibete.
“Em primeiro lugar, não creio que o renminbi (nome oficial da moeda chinesa) esteja desvalorizado”, disse Wen. “Somos contra os países se acusarem entre si ou tomarem medidas para obrigar outros a valorizar suas moedas. Isto não beneficiará a reforma do regime cambiário do renminbi”, acrescentou. O governador do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, afirmara, no início deste mês, que o valor do yuan atrelado ao dólar era uma medida “especial” que não seria mantida indefinidamente.
“Quando mais alto e forte falarem as autoridades dos Estados Unidos sobre isto, e mais reclamarem da China para que valorize sua moeda, menos possibilidades haverá para que essa medida seja tomada no curto prazo”, disse a especialista em estudos chineses Bonnie Glaser, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, com sede em Washington. O governo chinês é muito reticente a agir sob pressão externa. “Mesmo reconhecendo que deveria ajustar o valor da moeda, a oportunidade dessa medida será decidida em função de seus interesses”, acrescentou.
No dia 16, um porta-voz do Ministério do Comércio da China disse à imprensa que “esperamos que as empresas norte-americanas presentes neste país expressem suas reclamações e pontos de vista nos Estados Unidos, para promover o desenvolvimento do intercâmbio internacional e juntos nos opormos ao protecionismo”. Em 2005, o valor do yuan foi ajustado de US$ 8,27 para US$ 8,11 e foi implantado o câmbio fixo. Agora, a moeda chinesa se move em relação aos valores de uma cesta de divisas dominada pelo dólar, euro, iene e o won sul-coreano.
Entre aquele ano e 2008, a moeda chinesa foi desvalorizada em 20%. Entretanto, os que continuam questionando a política cambial chinesa, como os senadores Schumer e Lindwsey Graham, que conduziram a apresentação do projeto de lei, sentem-se frustrados pela demora de um ajuste semelhante. “Se lermos nas entrelinhas do que disse Jiabao, nada está descartado. Mas a retórica dura e a carta dos legisladores tornam muito difícil os chineses dizerem: de acordo, diante da pressão norte-americana, faremos o ajuste”, disse Glaser. A questão cambial não é a única que amarga os vínculos entre Pequim e Washington.
Em setembro, Obama autorizou uma tarifa alfandegária excepcional de 35% para as importações de pneus chineses, para deter um grande aumento nas compras desse produto que, segundo os sindicatos, causou a perda de sete mil empregos na indústria. Pequim imediatamente condenou a decisão e ameaçou tomar medidas semelhantes. Em janeiro, a norte-americana Google anunciou que contas de e-mail de diplomatas, ativistas pelos direitos humanos e jornalistas foram invadidas por hackers chineses.
A secretária de Estado Hillary Clinton se referiu ao tema, na época, e expôs a posição de Washington sobre o roubo de propriedade intelectual, segurança na Internet e a censura que a China exerce sobre a rede mundial de computadores. Pequim respondeu acusando os Estados Unidos de exercerem um “imperialismo informativo” e rechaçando as acusações de suposta participação do governo em ataques de hackers.
No mês passado, a China ameaçou com sanções as empresas norte-americanas que tomassem parte de um iminente acordo de venda de armas para Taiwan, que, para Pequim, é uma província renegada, no valor de US$ 6,4 bilhões. Desde que a crise econômica de 2008 começou a ser sentida nos dois países, Pequim busca conseguir que mais recursos de sua favorável balança de pagamentos não sejam investidos em divisas norte-americanas, mas em ações e produtos básicos. Enquanto isso, cobra-se de Obama que enfrente o crescente déficit comercial com a China e exerça maior pressão para conseguir uma reavaliação substancial da moeda asiática.

Fonte: mwglobal.org/ipsbrasil.net
Autor: Eli Clifton

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