02 abril, 2010

Toma lá, não dá cá

Toma lá, não dá cá

No mundo globalizado, os blocos econômicos aceleram o comércio mundial. Mas os acordos entre países ricos e pobres dependem de negociações que estão emperradas há anos.

A atual crise econômica global atinge em cheio o movimento de expansão do comércio entre os países de todo o planeta, que já dura quase 20 anos. Desde o início dos anos 1990, as exportações mundiais crescem aceleradamente, mas, nos últimos dois, a redução da demanda dos países desenvolvidos, em especial dos Estados Unidos (EUA), do Japão e das nações europeias, interrompeu essa tendência. Os efeitos foram sentidos já em 2007, quando o crescimento do comércio mundial de mercadorias caiu dos 8,5% observados em 2006 para 6%, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). No fim de 2008, a situação era ainda mais alarmante e atingia um número maior de países.
A China, que apresenta as taxas de crescimento econômico mais altas do planeta desde o início desta década, sentiu o baque. Em dezembro último, o comércio exterior chinês teve a maior queda desde 1999. As importações recuaram 21,3% em relação a dezembro de 2007, e as exportações, 2,8%. A ameaça de recessão nos EUA e na União Européia (UE) sinaliza, ainda, para uma queda de 20% nas exportações chinesas para os próximos meses, em relação a 2007.

Comércio global

O fluxo intenso de produtos e serviços entre países e uma característica da globalização. Além da interdependência das economias de todos os países, a globalização caracteriza-se, ainda, pela formação de blocos econômicos, como a UE, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Sob as regras da economia globalizada, esses blocos ajudam a abrir as fronteiras de cada nação ao livre trânsito de capitais e pessoas, ao reduzir barreiras alfandegárias, como práticas protecionistas.
Os blocos econômicos aceleraram o comércio mundial. Antes, qualquer produto importado chegava ao consumidor com o valor muito alto, em razão dos rigorosos controles alfandegários e das taxações. Os acordos entre os países de um mesmo bloco reduziram essas barreiras, promovendo a liberalização do comércio.
O bloco econômico mais importante da atualidade é a UE, tanto pela força de algumas de suas economias - como as da França, da Alemanha e do Reino Unido – quanto pela profundidade das relações entre seus países-membros. A maioria das nações da UE adota uma moeda única, o euro, e, entre os países do bloco, a população - e, portanto, a mão-de-obra - circula livremente. Uma das razões para a criação da UE foi a necessidade que as nações europeias sentiam de enfrentar a concorrência pesada dos Estados Unidos.
Os norte-americanos reagiram, constituindo o Nafta e tornando o México e o Canadá economias diretamente vinculadas a sua. Os EUA também integram a Área de Livre Comércio da Ásia e do Pacífico (Apec), de que fazem parte também Japão, China, Austrália e Chile, entre outros países.
Na América do Sul, o grande bloco é o Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela está em processo de adesão desde 2006. Quatro anos após sua fundação, o bloco instalou uma área de livre comércio que isenta de tarifas de importação 90% das mercadorias fabricadas na região. Como resultado, o intercâmbio entre as nações salta de 4 bilhões de dólares em 1990 para 20 bilhões em 1998. Desde sua origem, o Mercosul tem nos EUA seu principal parceiro comercial. Ao mesmo tempo, os EUA buscam fechar o maior número possível de tratados diretamente com os países do continente (acordos bilaterais), visando a uma futura ligação entre todos - o que é visto como ameaça à coesão do Mercosul.

Impasse na OMC

As negociações sobre as normas que regem o comércio global estão emperradas desde 2006 na Rodada Doha, da OMC. Fundada em 1995, a organização conta com 153 países-membros e funciona por rodadas, que duram alguns anos e tem como objetivo obter acordos sobre determinados pontos de regulamentação do comércio internacional. O que está em discussão no momento são a redução dos subsídios agrícolas que os países ricos concedem aos produtores locais e a queda nas tarifas de importação. Essas medidas protecionistas encarecem os produtos importados, dificultando sua entrada no mercado. As nações industrializadas, como os EUA e países da UE, até concordam em baixar um pouco as barreiras alfandegárias e reduzir os privilégios para seus produtores - desde que, em troca, os exportadores de produtos agrícolas, entre eles Brasil e Índia, derrubem as taxas impostas sobre os produtos industrializados comprados lá fora.
O problema é que, sem proteção alfandegária, a indústria dos países em desenvolvimento não consegue competir com os produtos estrangeiros – o que condenaria essas nações a eterna dependência econômica e ao subdesenvolvimento. Assim, sem acordo, a Rodada Doha, que começou em 2001 e deveria acabar na reunião de 2006, continua até hoje. As nações da OMC apostam no novo presidente norte-americano, Barack Obama, que assumiu o posto em janeiro. Ele é visto como peça-chave para mudar o rumo das negociações ou para encerrar de vez a Rodada Doha.



 
Fonte: Atualidades Vestibular - 2010.

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